Maria do Rosário Pedreira: Um livro inesperado
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Adeus, Futuro»?
R- Trata-se de um livro de crónicas e, portanto, algo realmente um pouco inesperado no conjunto de uma obra que se tem pautado sobretudo por livros de poesia e ficção. Mas a verdade é que não há nenhum escritor minimamente sério que não reflicta sobre a sua época e os muitos indícios que encontra no presente de um futuro menos humanista, menos informado, menos profundo e, o que é pior, mais violento, gratuito e individualista. Foi quase irresistível escrever sobre tudo isto.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- É simples. Quando Catarina Carvalho e Ferreira Fernandes estavam na direcção do Diário de Notícias, convidaram-me para escrever semanalmente uma crónica. A princípio assustei-me um pouco com essa regularidade, mas, com o treino que já levava do blogue (que acaba de fazer onze anos e no qual eu escrevo quase diariamente), acabei por aceitar. Descobri então que podia combinar os males da actualidade, como, por exemplo, a excessiva digitalização da vida contemporânea (já antes da pandemia) com o que a minha infância teve de enriquecedor e positivo, mesmo decorrendo num tempo que todos sabemos que foi cinzento e sem liberdade. É desse caldo – passado e presente – que se projecta um futuro infelizmente ameaçador, pobre e muito escuro. Haverá sempre minorias interessadas e interessantes, mas a tendência será para que cada vez menos pessoas queiram pensar o mundo e desfrutar das artes.
3-Pensando no futuro: as crónicas vão continuar a fazer parte do seu quotidiano de escrita?
R- Sim, parece que lhes tomei o gosto e estou de momento a escrever quinzenalmente no jornal Mensagem de Lisboa uma crónica sobre o que se foi perdendo na cidade onde nasci e cresci (figuras, hábitos, relações de proximidade…). E continuo com o blogue Horas Extraordinárias, claro, cujos posts se podem considerar crónicas, ainda que aí se fale quase só de livros e edição.
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Maria do Rosário Pedreira
Adeus, Futuro
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