Maria da Conceição Ruivo | Os Mapas do Silêncio

1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro ”Os Mapas do Silêncio”?

R- O livro “Os Mapas do Silêncio” representa uma nova fase da minha escrita, enquanto trabalho oficinal de criação de um objecto literário. Trata-se de um encadeado de narrativas, simultaneamente auto-suficientes mas interligadas, que, no conjunto conta uma história feita de muitas histórias, com as descontinuidades inerentes a uma tessitura narrativa que não está preocupada com uma progressão linear. Manter a individualidade de cada narrativa dentro de uma estrutura polifónica foi um desafio, uma experiência rica de aprendizagem.
2- Qual a ideia que esteve na origem da obra?
R- Quando inicio um projecto de escrita nunca tenho à partida uma ideia muito definida do que vou fazer, aliás há textos que nascem antes mesmo de eu saber em que contexto se irão integrar. Há sempre no começo um espaço de experiências, de escrita livre, de esboços e, aos poucos, o projecto vai ganhando contornos, o próprio material nos ensina o que quer ser. É a partir daí que começa uma fase mais intencional, mais planeada. A minha ideia inicial foi pegar no riquíssimo manancial de memórias e histórias familiares e da minha infância e adolescência no Alentejo – desde a magia da literatura oral e do cante, à dureza das condições de vida, ao espaço fechado das mulheres, à repressão fascista, à Guerra Colonial – e construir algo com esse material, mas que transcendesse a dimensão autobiográfica e regional e se contextualizasse no Portugal do antigo regime. Aos poucos, foi-se delineando o projecto de recriar a atmosfera de uma aldeia alentejana do século XX, com especial ênfase nos anos sessenta, através de diferentes retratos: de pessoas, paisagens, acontecimentos, de histórias atravessadas discretamente pelo olhar de uma jovem em crescimento, encantada e surpresa com um mundo que nem sempre compreende.
3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- De momento tenho vários projectos, um de literatura infanto-juvenil, outro de literatura oral e um terceiro que ainda está na fase de esboço,
de escrita livre, no qual estou muito empenhada mas de que ainda não posso falar porque ainda não sei bem o que vai ser.
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Maria da Conceição Ruivo
Os Mapas do Silêncio
Afrontamento