Margarida Fragoso | Design Gráfico em Portugal

1- De que falamos, quando falamos de cultura visual?
R- Cultura, neste livro, é percebida numa interpretação
sociológica e numa perspectiva complexa; É entendida como o conjunto complexo
de conhecimentos e todas as demais capacidades adquiridas pelo homem como membro
da sociedade; Cultura visual é entendida como o conjunto de conhecimentos,
ideias, valores, costumes, manifestações intelectuais e artísticas entre
outras, que caracterizam uma sociedade e que se manifestam na expressão visual.

2- Depois do estudo do design gráfico em Portugal no século
XX, podemos dizer que esta primeira década do novo século apresenta novos
rumos, novas abordagens, novas tendências?

R- Inseridos na sociedade, os designers exercem nela a sua
actividade, mas o seu trabalho não é neutro ou alheio aos seus valores. Estes
são, simultaneamente, autores e testemunhas do “espírito do tempo”. Verificámos
que o mundo de grande «coerência» e estabilidade do final do século XIX foi
fragmentado pela emergência de interrogações em múltiplos domínios. Ao longo do
século XX, a busca de novos caminhos, a afirmação de novos princípios e
conflito entre eles, as crispações e antagonismos foram configurando um estado
de «sincretismo» em que aparentemente tudo é válido, tudo pode ser sustentado e
defendido. Esta primeira década do novo século é reveladora de uma
multiplicidade de valores que se manifesta em diversas e efémeras formas. A
fusão entre os meios técnicos de difusão da imagem, do som e de dados permitida
pelas tecnologias digitais vem alterando a noção de expressão visual limitada à
expressão gráfica, impressa ou não; A «portabilidade» dos meios de acesso à
informação visual e sonora integradas, com a decorrente modificação das escalas
dimensionais e da sua percepção; O rápido desenvolvimento da imagem de síntese
e da sua integração com a imagem captada do mundo real, cujas possibilidades
abrem campos alargados à criatividade mas não deixam de criar problemas
deontológicos, éticos e jurídicos ainda apenas entrevistos.  Estes são novos caminhos a que devemos estar
atentos e abertos à sua compreensão!
3-Qual a principal ideia que pretendeu artilhar com os seus
leitores ao escrever este livro?
R- Interrogar o
sentido e fundamentos de uma prática profissional e repensar criticamente muito
do “adquirido” convencional no pensamento sobre o Design. Por outras palavras:
perante as questões que surgem diariamente, cabe reflectir. E ao interrogar,
começa-se a dissecar o problema e a contribuir para a sua compreensão.
Compreender as questões que nascem da prática quotidiana possibilita uma
intervenção mais eficaz e consistente e é desta relação Saber para Fazer, Fazer
para Saber que surge a ideia para escrever este livro.
Por outro lado, este livro resulta também da insuficiente
análise crítica que existe sobre este tema. É preciso rever, alargar os
horizontes, pôr em questão, problematizar, contribuir para a construção de uma
consciência crítica, atitude cada vez mais premente no mundo visualmente
diversificado da actualidade. A contribuição para o progresso do conhecimento requer uma atitude aberta ao
entendimento do mundo e a uma disposição para se ser produtor, e não mero
consumidor do pensamento alheio sobre os problemas que nos dizem respeito. 
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Margarida Fragoso
Design Gráfico em Portugal. Formas e Expressões da Cultura
Visual do Século XX
Livros Horizonte