Manuel Jorge Marmelo regressa com o romance “Tropel”

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Tropel»?
R- Este livro assinala, desde logo, o regresso à publicação após uma interrupção de mais de quatro anos, decidida por mim e tendo em conta que o alheamento dos leitores relativamente aos livros que escrevo não podia deixar de me fazer chegar a certas conclusões e a retirar delas as necessárias consequências. Desafiado pela Porto Editora, regresso agora com um livro que tem a virtude de combinar o olhar do autor sobre o seu tempo com um tratamento literário e de linguagem que, espero, garantirá a sua sobrevivência ao turbilhão de novidade e de excesso de informação em que vivemos. Sem falsas modéstias, creio que pode ser o meu melhor livro.

2-Qual a ideia que esteve na base deste romance?
R- «Tropel» é, de algum modo, a consequência lógica do anterior «Macaco Infinito», procurando criar uma alegoria a partir da realidade trágica resultante de vários movimentos migratórios. Parti da expressão caçador de imigrantes, que a dada altura serviu para identificar vários grupos de cidadãos que alegavam estar a proteger a Europa de uma invasão, perseguindo os migrantes que procuravam uma saída para a impossível vida que tinham nos seus países de origem. O que fiz foi olhar para esta expressão, e para esta realidade, criando um grupo de caçadores de migrantes que leva a tarefa à letra, matando os estrangeiros que procuram entrar no seu país. Nestes caçadores estão condensados o ódio ao estrangeiro e os discursos xenófobos e securitários de vários líderes políticos cujas acções colocam diariamente em risco milhares de vidas humanas, embora, no seu desamparo, não sejam mais do que agentes e símbolos de uma certa forma de estupidez, crueldade e intolerância que está na origem de milhares de mortes em todo o mundo. E não é preciso ir muito longe para perceber que esta realidade também nos diz respeito. Basta ver em que circunstâncias morreu em Março último um viajante ucraniano no aeroporto de Lisboa, o qual se encontrava à guarda de um Estado de Direito que, antes de tudo, devia servir para garantir a vida e a dignidade de todas as pessoas.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou, no âmbito de uma bolsa de criação literária atribuída pela Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, a concluir um romance que lida com a questão de memória, do envelhecimento, da doença e da liberdade de poder escolher as circunstâncias da morte.
__________
Manuel Jorge Marmelo
Tropel
Porto Editora  14,40€

COMPRAR O LIVRO