Manuel Dias da Silva | A Delicada Teia de Ariadne
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «A
Delicada Teia de Ariadne»?
Delicada Teia de Ariadne»?
R- “A Delicada Teia de Ariadne” representa uma evolução na forma de encarar a
poesia. Como disse o Doutor Luís Serrano, que apresentou a obra em Aveiro, o
autor “corrigiu neste livro o que eram soluções mais fáceis e sobretudo deu a
esta poesia o mundo de sugestão que é a característica mais relevante desta
forma literária”. De facto “Silêncio e Outros Temas”, primeiro livro que
publiquei, em 1995, embora sendo uma evolução no que já tinha escrito, na área
da poesia, desde 1961, não é mais do que um conjunto de poemas, sem que seja
percetível um fio condutor. No segundo livro, “Cantos de Amanhecer” (2000),
está dividido em três partes bem definidas: o eu, a pessoa amada, os amigos; “A
Gola do Tempo”, terceiro livro, foi escrito ao longo de 2004 e publicado em
2007, teve, como móbil, partindo da situação debilitada em que o meu pai se
encontrava (faleceu em Dezembro de 2004), que balanço de vida, nestas
circunstâncias, ele faria. Daí ter utilizado a figura de Ulisses e a viagem de
regresso a Ítaca, como metáfora. “O Som dos Lagares”, publicado em 2008 e
escrito em um mês, foi-me “encomendado”, para ser uma oferta a distribuir num
concurso de vinhos, que não aconteceu, mas que deveria ter-se realizado em
2007. Se desde “Cantos de Amanhecer”, o simbólico esteve sempre muito presente,
a sugestão, verdadeira essência da poesia, como já se disse, apresentou-se de
forma marcante em “A Delicada Teia de Ariadne”, que é, sem dúvida, o livro mais
importante da minha obra literária, uma espécie de corolário dos livros anteriores.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Na Divina Comédia, depois de descer às profundezas do Inferno e ascender às
cornijas do Purgatório, Dante descobre a própria identidade, tendo ficado a
saber, como Alberto Manguel diz em Uma História da Curiosidade, que “tem de
chorar, não pelas coisas que lhe são exteriores mas pelo seu ser mais interior,
não pela partida do seu querido Virgílio, não pelo amor da sua amada Beatriz,
mas pelos seus pecados, sabendo por fim quem é, para que se possa arrepender de
quem foi”. Aristófanes, no Banquete, de Platão, defende que o amor é o desejo
de saber quem somos pela recordação de quem fomos. Jorge Luís Borges comunga da
mesma opinião, ao iniciar um dos seus poemas pelo verso Somos o esquecimento
que seremos, que foi escolhido, pelo escritor colombiano, Héctor Abad
Faceolince, para título de um dos seus livros, onde evoca a memória do pai,
assassinado, na Colômbia, por motivos políticos. Para sabermos quem somos,
integralmente, em todos os nossos componentes, mesmo aquela parte de nós a que
chamamos inconsciente, questionamo-nos ao longo de toda a vida, à procura de
pistas, numa interminável procura das próprias acções, para melhor compreensão
do eu. Conforme se tornam conscientes e nos revelam coisas de nós próprios, as
imagens do inconsciente aumentam a nossa noção de quem somos. Somos definidos
por aquilo que recordamos, já que as nossas memórias são a nossa biografia, a
nossa essência, e retêm a imagem que temos de nós mesmos, “não – como escreve
Maria Etelvina Santos no prefácio do livro Fantasmagorias, de Virgínia Woolf –
para fantasiar ilusões, mas para tornar possível o que o real não oferece e
através da imaginação pode ser criado”. “Se o passado / é só passado, o rio da
memória correrá / paralelo ao rio das coisas. E a / memória, cheia de coisas,
cria paisagens / profundas. Frágeis, talvez, e vazias de nomes.” A Delicada
Teia de Ariadne, p. 52 Lendo Sá de Miranda, deparei com o verso Nada do que vês
é assi, que sintetizava o que há muito andava na minha cabeça e que funcionou
como uma mola para construir este livro.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Diz o povo que “o futuro a Deus pertence”, embora eu seja da opinião que o
futuro nos pertence a nós, porque é nossa função e missão construí-lo. Não
estou a trabalhar no sexto livro, porque tenho para mim que o intervalo entre
cada livro deve ser dum número de anos suficientemente longo, para que o autor
tenha o distanciamento necessário para apresentar o que escreve, utilizando
novas formas e maneiras de dizer, para transmitir o seu pensamento que,
normalmente, é sempre o mesmo. Neste momento, ainda não pensei em nada, mas em qualquer
altura pode aparecer uma frase que se lê, uma ideia que surge, uma paisagem,
que nos entra pelos olhos, um facto que se nos impõe, trazendo-me a inspiração
que, para mim, é o querer passar aquelas coisas para o papel. Depois é escrever
com muito trabalho, pesquisa, disciplina e procura daquilo que entendo como
qualidade. Nunca me interessou escrever qualquer coisa e chamar-lhe um poema. A
poesia, pela sua própria natureza, é algo muito complexo, porque tem que dizer
muito em poucas palavras e a sua mensagem quase nunca é imediata. E isto só se
consegue lendo muito, reflectindo muito e não fazer cedência a facilidades, a
coisas “bonitinhas”.
__________
Manuel Dias da Silva
A Delicada Teia de Ariadne
poesia. Como disse o Doutor Luís Serrano, que apresentou a obra em Aveiro, o
autor “corrigiu neste livro o que eram soluções mais fáceis e sobretudo deu a
esta poesia o mundo de sugestão que é a característica mais relevante desta
forma literária”. De facto “Silêncio e Outros Temas”, primeiro livro que
publiquei, em 1995, embora sendo uma evolução no que já tinha escrito, na área
da poesia, desde 1961, não é mais do que um conjunto de poemas, sem que seja
percetível um fio condutor. No segundo livro, “Cantos de Amanhecer” (2000),
está dividido em três partes bem definidas: o eu, a pessoa amada, os amigos; “A
Gola do Tempo”, terceiro livro, foi escrito ao longo de 2004 e publicado em
2007, teve, como móbil, partindo da situação debilitada em que o meu pai se
encontrava (faleceu em Dezembro de 2004), que balanço de vida, nestas
circunstâncias, ele faria. Daí ter utilizado a figura de Ulisses e a viagem de
regresso a Ítaca, como metáfora. “O Som dos Lagares”, publicado em 2008 e
escrito em um mês, foi-me “encomendado”, para ser uma oferta a distribuir num
concurso de vinhos, que não aconteceu, mas que deveria ter-se realizado em
2007. Se desde “Cantos de Amanhecer”, o simbólico esteve sempre muito presente,
a sugestão, verdadeira essência da poesia, como já se disse, apresentou-se de
forma marcante em “A Delicada Teia de Ariadne”, que é, sem dúvida, o livro mais
importante da minha obra literária, uma espécie de corolário dos livros anteriores.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Na Divina Comédia, depois de descer às profundezas do Inferno e ascender às
cornijas do Purgatório, Dante descobre a própria identidade, tendo ficado a
saber, como Alberto Manguel diz em Uma História da Curiosidade, que “tem de
chorar, não pelas coisas que lhe são exteriores mas pelo seu ser mais interior,
não pela partida do seu querido Virgílio, não pelo amor da sua amada Beatriz,
mas pelos seus pecados, sabendo por fim quem é, para que se possa arrepender de
quem foi”. Aristófanes, no Banquete, de Platão, defende que o amor é o desejo
de saber quem somos pela recordação de quem fomos. Jorge Luís Borges comunga da
mesma opinião, ao iniciar um dos seus poemas pelo verso Somos o esquecimento
que seremos, que foi escolhido, pelo escritor colombiano, Héctor Abad
Faceolince, para título de um dos seus livros, onde evoca a memória do pai,
assassinado, na Colômbia, por motivos políticos. Para sabermos quem somos,
integralmente, em todos os nossos componentes, mesmo aquela parte de nós a que
chamamos inconsciente, questionamo-nos ao longo de toda a vida, à procura de
pistas, numa interminável procura das próprias acções, para melhor compreensão
do eu. Conforme se tornam conscientes e nos revelam coisas de nós próprios, as
imagens do inconsciente aumentam a nossa noção de quem somos. Somos definidos
por aquilo que recordamos, já que as nossas memórias são a nossa biografia, a
nossa essência, e retêm a imagem que temos de nós mesmos, “não – como escreve
Maria Etelvina Santos no prefácio do livro Fantasmagorias, de Virgínia Woolf –
para fantasiar ilusões, mas para tornar possível o que o real não oferece e
através da imaginação pode ser criado”. “Se o passado / é só passado, o rio da
memória correrá / paralelo ao rio das coisas. E a / memória, cheia de coisas,
cria paisagens / profundas. Frágeis, talvez, e vazias de nomes.” A Delicada
Teia de Ariadne, p. 52 Lendo Sá de Miranda, deparei com o verso Nada do que vês
é assi, que sintetizava o que há muito andava na minha cabeça e que funcionou
como uma mola para construir este livro.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Diz o povo que “o futuro a Deus pertence”, embora eu seja da opinião que o
futuro nos pertence a nós, porque é nossa função e missão construí-lo. Não
estou a trabalhar no sexto livro, porque tenho para mim que o intervalo entre
cada livro deve ser dum número de anos suficientemente longo, para que o autor
tenha o distanciamento necessário para apresentar o que escreve, utilizando
novas formas e maneiras de dizer, para transmitir o seu pensamento que,
normalmente, é sempre o mesmo. Neste momento, ainda não pensei em nada, mas em qualquer
altura pode aparecer uma frase que se lê, uma ideia que surge, uma paisagem,
que nos entra pelos olhos, um facto que se nos impõe, trazendo-me a inspiração
que, para mim, é o querer passar aquelas coisas para o papel. Depois é escrever
com muito trabalho, pesquisa, disciplina e procura daquilo que entendo como
qualidade. Nunca me interessou escrever qualquer coisa e chamar-lhe um poema. A
poesia, pela sua própria natureza, é algo muito complexo, porque tem que dizer
muito em poucas palavras e a sua mensagem quase nunca é imediata. E isto só se
consegue lendo muito, reflectindo muito e não fazer cedência a facilidades, a
coisas “bonitinhas”.
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Manuel Dias da Silva
A Delicada Teia de Ariadne