Mafalda Santos: “A oralidade e a literatura podem e devem andar de mãos dadas”
1-No ano do centenário de José Saramago, qual o principal legado do escritor?
R-Há dois legados que me parecem essenciais. O primeiro foi o de trazer para a literatura portuguesa, uma espécie de realismo mágico, acído, provocador e místico que não existia até então. O segundo foi o de mostrar, de uma forma a meu ver muito clara, que a oralidade e a literatura podem e devem andar de mãos dadas. Há uma carga oral muito forte na obra de Saramago. Ele escrevia como falamos, com as mesmas pausas e melodia exactas, e essa particularidade contribui em muito para a verdade que encontramos nas suas personagens e histórias.
2-Qual é o seu livro preferido escrito pelo nosso Nobel?
R-Custa-me escolher apenas um, porque gosto de muitos. Há poucos escritores que surpreendam tanto de livro para livro. Mas não fugindo à pergunta, escolho o Ensaio Sobre a Cegueira.
3-Razões dessa escolha?
R- Li-o três vezes e descobri sempre novas subtilezas, novos olhares… É um livro que na escuridão aponta um caminho sem nos obrigar a fazê-lo e que no fim parece perguntar: Vamos lá ver meus amigos, depois disto tudo, aprenderam a lição?
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Mafalda Santos, Escritora