A. M. Pires Cabral | Arado
R – Representa um reaproximar da minha poesia daquele que foi o seu espaço de inspiração original: a realidade nordestina. Como se me estivesse preparando para fechar completamente o círculo. Só que, desta vez, a poesia saiu-me complicada com outro tipo de considerações, metafísicas e escatológicas, que no primeiro livro (Algures a Nordeste, 1974) ou não estavam presentes, ou estavam apenas em embrião.
2 – Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R – Essa mesmo de que acabei de falar: fechar o círculo, acomodar-me à terra, reaproximar-me da matriz telúrica e cultural. Para, com infinito desalento, verificar que essa raiz está em vias de secar. Daí o tom elegíaco do livro que alguém já notou.
3 – Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R – De momento, estou de pousio (termo do Nordeste que se aplica às terras que não foram semeadas e aguardam oportunidade de o serem). Amanhã logo se vê. De todo o modo, o computador não está inactivo: tenho alimentado o bichinho, juntando mais uns quantos verbetes ao dicionário de regionalismos trasmontanos que ando há décadas a elaborar aos poucos, quando tenho uma nesgazinha de vagar. Dicionário esse que também é, à sua maneira, uma elegia ao Nordeste que foi.
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A. M. Pires Cabral