Luz e sombra na história dos Judeus em Portugal
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Judeus Portugueses: uma História de Luz e Sombra»?
R- A ideia principal foi a de dar a conhecer a história dos judeus em Portugal desde os seus primórdios até hoje. Uma longa história judaica e portuguesa e simultaneamente multicultural pela influência da pluralidade de culturas que ao longo dos séculos foram povoando o território que é hoje Portugal. Uma história que infelizmente ainda é muito pouco conhecida do grande público. Mas o meu objectivo foi também mostrar como essa pluralidade de culturas é um grande enriquecimento para a identidade e a vivência de uma nação e não, como muitos receiam, um enfraquecimento dessa mesma identidade.
2-A presença judaica em Portugal é uma constante há séculos: consegue identificar os seus momentos mais significativos e marcantes?
R- Há momentos que marcaram profundamente a história: a vinda dos refugiados judeus de Espanha em consequência da sua expulsão do país em 1492, é um deles. Este acontecimento teve, por um lado um impacto muito positivo, trazendo para Portugal homens como Abraão Zacuto, cujo Almanach Perpétuum contendo as tábuas de declinação solar, teve um papel muito importante no Descobrimentos Portugueses. Grandes rabinos, médicos, astrónomos, filósofos e exegetas, impressores e financeiros vieram enriquecer a comunidade judaica em Portugal. Mas indirecta e involuntariamente, essa vinda massiva acabou por contribuir para a tragédia que acontecerá quatro anos depois, em 1496 com o Édito de Expulsão de judeus e Mouros por D. Manuel I, imposto pela filha dos Reis de Espanha como condição para casar com o Rei português. O Édito de Expulsão, o baptismo forçado do conjunto dos judeus em 1497 e em 1536 a instauração da Inquisição, são três acontecimentos que marcaram de forma indelével e negativa o destino dos judeus e da nação portuguesa de uma forma geral.
3-Nesta interacção entre a história do nosso país e a história das vidas dos judeus em Portugal: são mais os momentos de Luz ou os de Sombra?
R- Sem esquecer os tempos sombrios, eu prefiro destacar os momentos de Luz. Em primeiro lugar, o período entre os séculos XII e XV, que podemos chamar de convivência e ou interacção entre a maioria cristã e a minoria judaica, durante o qual os judeus puderam contribuir decisivamente para o desenvolvimento do país. Em seguida, a partir do final do século XVIII, o fim da absurda distinção entre cristãos-novos e velhos pela mão do Marquês de Pombal em 1773, permitindo novamente a interação entre uns e outros e o ressurgimento do judaísmo em Portugal. De destacar também, a abolição da Inquisição em 1821, o reconhecimento oficial da Comunidade Israelita de Lisboa em 1912 pelo governo republicano, a instalação de comunidades, em Faro, nos Açores e no Porto e, tardia, mas significativa a Lei de Liberdade Religiosa em 2002, tornada possÍvel pela instauração da democracia em 1974. Os momentos de Luz mostram-nos que o contributo positivo, a criatividade, a inovação é directamente proporcional ao grau de liberdade, de convivência e interacção entre os povos. Esta é para mim a principal lição que se pode tirar da história dos judeus em Portugal.
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Esther Mucznik
Judeus Portugueses – Uma História de Luz e Sombra
Manuscrito 16,90€