Luís Gaivão | História de Portugal em Disparates
FOTO: NEUSA AIRES
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro
«História de Portugal em Disparates»?
«História de Portugal em Disparates»?
R- A ideia foi fazer um balanço da minha docência da disciplina de História de
Portugal ao 2º ciclo de escolaridade. Peguei nos aspetos do insucesso pelo lado
do non sense das respostas improváveis que, em muitos casos, não deixam de ser
pérolas de rico conteúdo. A distração, a falta de estudo ou outros fatores
externos aos alunos e aos professores (programas, didácticas, pedagogias, meio
familiar, razões culturais, sociedade, ou a crueza da ausência de condições
materiais) conduzem a situações diversas de respostas hilariantes. Uma grande
parte destas respostas erradas têm, contudo, um sentido profundo que o
professor deve saber interpretar e que é a racionalidade e sensibilidade do
aluno. “Deus escreve direito por linhas tortas” e os alunos, muitos
deles, também o fazem.
2-O livro tem muitas frases hilariantes: se não fosse (quase) uma tragédia,
poderia causar inveja a muitos humoristas?
R- Não creio que seja uma tragédia. Não há, na face da terra, nenhum professor
que tenha tido sucesso a 100% na sua docência, para além de cada um de nós se
identificar com muitos disparates cometidos enquanto alunos, nos testes e nas
aulas. A realidade é a mesma, mudaram os condicionalismos que envolvem uma
escola contemporânea, porque é a que temos hoje, que demora a responder, com
qualidade pedagógica e instrumentos adequados à educação. Esta que, embora já
não seja baseada na memória sem razão, refugia-se, muitas vezes, numa razão sem
memória. Estas duas capacidades, “memória” e “razão” são
constituintes duma educação para a responsabilidade e democracia participativa,
e a escola, enredada em estatísticas, ideologias, e pressões de sucesso, induz
a um insucesso relativamente aos alunos que não não têm os recursos para o seu
pessoal sucesso educativo. Mas os disparates desta História certamente que
podem e devem causar inveja a muitos humoristas, ou o humor deixaria de ser
inteligente.
3-Depois de mais de 30 anos a ensinar, consegue explicar como se chegou a este
estado de coisas?
R- Já expliquei anteriormente e parcialmente como se chegou aqui. Mas o que é
grave é a manutenção do insucesso, aliás, tantas vezes disfarçado de
“sucesso”, com notas inflacionadas, fortemente “puxadas”
para cima pelos professores a quem a tutela “quase” obriga a não
reprovar os alunos, castigando com uma burocracia desmotivadora quando vem a
avaliação. O insucesso tenderia a ser muito menor se os programas fossem
adequados aos níveis etários de desenvolvimento dos diferentes alunos,
equilibrados, a carga horária lhes permitisse amadurecer os assuntos e, sem
stress, dar a matéria. Aqui, os professores poderiam, então,
“cativar” os alunos para a disciplina, e fazer-lhes compreender o quão
necessário é saber a história para melhorar o presente e o futuro. Este é o seu
objeto, e se não for cumprido, gera fracasso e desadaptação.
Portugal ao 2º ciclo de escolaridade. Peguei nos aspetos do insucesso pelo lado
do non sense das respostas improváveis que, em muitos casos, não deixam de ser
pérolas de rico conteúdo. A distração, a falta de estudo ou outros fatores
externos aos alunos e aos professores (programas, didácticas, pedagogias, meio
familiar, razões culturais, sociedade, ou a crueza da ausência de condições
materiais) conduzem a situações diversas de respostas hilariantes. Uma grande
parte destas respostas erradas têm, contudo, um sentido profundo que o
professor deve saber interpretar e que é a racionalidade e sensibilidade do
aluno. “Deus escreve direito por linhas tortas” e os alunos, muitos
deles, também o fazem.
2-O livro tem muitas frases hilariantes: se não fosse (quase) uma tragédia,
poderia causar inveja a muitos humoristas?
R- Não creio que seja uma tragédia. Não há, na face da terra, nenhum professor
que tenha tido sucesso a 100% na sua docência, para além de cada um de nós se
identificar com muitos disparates cometidos enquanto alunos, nos testes e nas
aulas. A realidade é a mesma, mudaram os condicionalismos que envolvem uma
escola contemporânea, porque é a que temos hoje, que demora a responder, com
qualidade pedagógica e instrumentos adequados à educação. Esta que, embora já
não seja baseada na memória sem razão, refugia-se, muitas vezes, numa razão sem
memória. Estas duas capacidades, “memória” e “razão” são
constituintes duma educação para a responsabilidade e democracia participativa,
e a escola, enredada em estatísticas, ideologias, e pressões de sucesso, induz
a um insucesso relativamente aos alunos que não não têm os recursos para o seu
pessoal sucesso educativo. Mas os disparates desta História certamente que
podem e devem causar inveja a muitos humoristas, ou o humor deixaria de ser
inteligente.
3-Depois de mais de 30 anos a ensinar, consegue explicar como se chegou a este
estado de coisas?
R- Já expliquei anteriormente e parcialmente como se chegou aqui. Mas o que é
grave é a manutenção do insucesso, aliás, tantas vezes disfarçado de
“sucesso”, com notas inflacionadas, fortemente “puxadas”
para cima pelos professores a quem a tutela “quase” obriga a não
reprovar os alunos, castigando com uma burocracia desmotivadora quando vem a
avaliação. O insucesso tenderia a ser muito menor se os programas fossem
adequados aos níveis etários de desenvolvimento dos diferentes alunos,
equilibrados, a carga horária lhes permitisse amadurecer os assuntos e, sem
stress, dar a matéria. Aqui, os professores poderiam, então,
“cativar” os alunos para a disciplina, e fazer-lhes compreender o quão
necessário é saber a história para melhorar o presente e o futuro. Este é o seu
objeto, e se não for cumprido, gera fracasso e desadaptação.