Luís Corredoura: “Um enredo em que determinadas pessoas/personagens não olham a meios para alcançar certos fins”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro A Bomba de Lisboa?
R-A Bomba de Lisboa é mais um “projecto literário” que, não obstante não ser uma distopia, pode ser inserido nesse âmbito ou visto através desse prisma, pois tem como base uma situação verídica, o designado Incidente de Palomares, acontecimento que ocorreu em Janeiro de 1966 e que envolveu um bombardeiro norte-americano B-52 carregado com ogivas nucleares que, durante uma rotineira operação de reabastecimento, se despenhou no sudeste de Espanha, nas imediações de Palomares. Tal como sucede como os demais “projectos” similares que desenvolvo, este acaba por ser – ou tenta ser – uma chamada de atenção para uma realidade que pode consubstanciar-se e / ou que só ainda não sucedeu por, em jeito de ironia, mero capricho dos deuses, pois o ser humano está sempre disposto a demonstrar que a sua perversidade supera qualquer ficção, por mais rebuscada e fantasiosa que esta última pareça.
2-Qual a ideia que está na base deste livro?
R-Conforme referi na resposta à pergunta anterior, este “projecto” baseou-se no que sucedeu há perto de seis décadas no sudeste de Espanha. A partir daí, tendo em consideração a actual situação do mundo, concretamente o que tem acontecido entre a Rússia e a Ucrânia e o que se passa em Israel e demais países do Próximo e Médio Oriente, tratei de imaginar um enredo em que determinadas pessoas/personagens não olham a meios para alcançar certos fins que nada de bom representam ou trazem para a restante humanidade. Muito resumidamente, posso adiantar que quando Moscovo percebe que não consegue subjugar Kiev conforme inicialmente pensara, trata de contactar aqueles que para a civilização ocidental sempre agiram e se comportaram como terroristas sem qualquer tipo de comiseração para com as demais pessoas – incluindo as que têm hábitos culturais semelhantes aos seus, que partilham dos mesmos ideais civilizacionais e seguem os mesmos preceitos religiosos – para, naquela que será a mais importante cimeira da NATO, a qual se realizará em Lisboa, de um só golpe apagar da superfície do solo os chefes de estado de todos os países que (ainda) dispõem de meios para fazer frente à agressividade dos russos e evitar que estes invadam e dominem o resto da Europa. Para tal, os apaniguados do Kremlin recorrerão a algo que os norte-americanos, por incúria e excesso de confiança, terão deixado no fundo do Mar Mediterrâneo há quase sessenta anos, pois então acreditaram que aquilo que lá ficara jamais seria descoberto. No entanto, as tecnologias evoluiriam e os russos, após tomarem conhecimento dessa realidade, tratam de resgatar o que, supostamente, tem um período de vida que roça o eterno para fabricar um engenho nuclear transportável por uma única pessoa, mas com uma capacidade de destruição similar aos que foram largados sobre Hiroxima e Nagasáqui…
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Presentemente, tenho vários “projectos” em andamento, incluindo uma tese de doutoramento!… No entanto, entre a carreira profissional e a vida pessoal, vou dando maior atenção a um trabalho de investigação – ou seja, não se trata de um romance, mas de um estudo – relacionado com aquelas que terão sido algumas das maiores tragédias da Humanidade provocadas pelo próprio homem. O intuito é tentar perceber como e porque é que este, ao longo dos tempos, tem sido tão perverso e maldoso com os seus iguais, superando a crueldade humana a própria ficção, por muito assustadora e medonha que esta última seja ou pareça, conforme comprovam várias obras-primas da literatura escritas ao longo dos tempos por alguns dos mais sublimes autores.
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Luís Corredoura
A Bomba de Lisboa
Cultura Editora 23,50€
Luís Corredoura na “Novos Livros” | Entrevistas