Lucília Galha | Morte Assistida

1- De que trata este seu livro “Morte Assistida”?
R-O livro conta a história da primeira e, até hoje, única
cidadã portuguesa que morreu na Dignitas – uma associação suíça de apoio ao
suicídio assistido. É uma história que nunca foi antes contada pela comunicação
social. O livro relata o que lhe aconteceu e a razão pela qual decidiu viajar
até à Suíça e pedir ajuda para morrer. O relato é feito na terceira pessoa,
através das duas pessoas, dois amigos, que a acompanharam e que testemunharam os
seus últimos momentos.
Esta mulher, de 67 anos, era divorciada, sem filhos, tinha
um cancro terminal e estava em grande sofrimento. Temia a possibilidade de
perder a sua independência e a lucidez e foi isso que a levou a antecipar a sua
morte. Também relata o funcionamento desta associação suíça e desmistifica a
forma como as coisas funcionam nos países em que a eutanásia ou o suicídio
assistido estão despenalizados.
Além desta história, há outros seis depoimentos de
portugueses que, de alguma forma, já se confrontaram com a questão da morte.
Relata o seu percurso e o que os leva a reclamarem um papel activo na sua
própria morte. Quatro destas pessoas estão bastante doentes.  
2- De forma resumida, qual a principal ideia que espera
conseguir transmitir aos seus leitores?
R-A ideia é lançar o debate não só sobre a pergunta “Que
papel queremos desempenhar na nossa própria morte?” e sobre o tema da morte
assistida, mas também sobre as circunstâncias e a forma como os doentes são
acompanhados na fase terminal das suas vidas. Até pode haver uma maioria que
prefere não pensar na morte, mas isso não justifica que não se tenha em atenção
a vontade dos outros que têm uma percepção diferente para quando chegar o fim.
Outro aspecto fundamental é dar a conhecer às pessoas que
todas as leis despenalizadoras da morte assistida incluem uma série de
salvaguardas. Não se aceita um pedido destes levianamente. Na Suíça, por
exemplo, é preciso que a pessoa sofra de uma doença terminal ou de uma
incapacidade que prejudica em muito a sua vida quotidiana ou de dor
insuportável e incontrolável.   
3-Porque será que este tema da eutanásia é quase um tabu na
nossa sociedade?
R-Eu não diria “quase”, diria que é mesmo um tabu. Não só a
eutanásia como a própria morte. Uma das protagonistas do livro considera que a
morte é o último tabu da sociedade ocidental e eu concordo com ela. Há umas
décadas atrás, a maioria das pessoas morria em casa, acompanhada pelos
familiares que assistiam a tudo até ao fim. Hoje, 60% das pessoas morrem no hospital,
sozinhas, o que tornou a morte numa coisa estranha. Somos educados como se ela
não existisse, como se a pudéssemos adiar.
Por outro lado, este assunto continua também a ser tabu por
causa da influência da Igreja na nossa sociedade. A Igreja Católica defende que
só Deus dá e tira a vida e não admite excepções – nem nestes casos em que o
sofrimento é atroz e em que as pessoas já não têm nenhuma hipótese de cura.
Também a própria comunidade médica olha com muita
desconfiança para este assunto. A nossa sociedade continua a ser bastante
conservadora em relação a estes temas mais fracturantes. Veja-se quantos anos
foram necessários para despenalizar o aborto e também para legislar o
testamento vital, um documento fundamental para atender à vontade das pessoas
em situações em que elas não se podem manifestar. 
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Lucília Galha
Morte Assistida
Oficina do Livro, 13,90€