A língua é a minha pátria?

A língua é um dos mais importantes patrimónios de um povo. É um elemento identificador, unindo comunidades sob uma mesma expressão enquanto instrumento de comunicação.

“Minha pátria é a língua portuguesa”, escreveu Fernando Pessoa (transcrito no “Livro do Desassossego”, sob o heterónimo de Bernardo Soares), e canta ainda hoje Caetano Veloso. Uma língua rica, prenhe de variações a muitos níveis – fonético, morfológico, lexical, sintáctico e semântico –, adoptada como língua oficial em Portugal, Brasil (países onde é, também, língua nacional), Angola, Cabo Verde, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste.

A verdade é que diariamente se dizem e escrevem os maiores disparates – e não nos referimos ao conteúdo mas à forma, ou seja, à utilização dessa ferramenta comunicacional que é a língua portuguesa. Maltratamos sem dó nem piedade a nossa língua; não denunciamos nem nos indignamos com os erros publicados em livros, jornais e revistas ou legendas na televisão; ouvimos impávidos e serenos incorrecções, discordâncias gramaticais e pronúncias incorrectas; e encolhemos os ombros face à calamidade que é o facto de a maioria dos nossas crianças ter notas negativas na disciplina de Português.

“A norma do português é o conjunto de usos linguísticos das classes cultas da região entre Lisboa e Coimbra” e o uso correcto da língua resulta da conciliação entre o bem falar e escrever (“segundo o modelo dos melhores escritores portugueses ao longo dos tempos”) e o uso mais geral da língua, adoptado “pela comunidade linguística lusófona”, explicam Elsa Rodrigues dos Santos e D’Silvas Filho em “Grandes Dúvidas da Língua Portuguesa – Falar e escrever sem erros”, recentemente editado.

Escrito tendo já como referência as regras do novo acordo ortográfico (que não estamos a utilizar neste texto), a obra pretende ser, mais do que uma gramática, um manual prático para “falar e escrever sem erros”.

Os autores, conceituados especialistas na área da linguística e professores experientes, optaram por dividir o livro em duas grandes partes, encarregando-se cada um de uma delas. Assim, D’Silvas Filho (pseudónimo do autor de “Prontuário – Erros Corrigidos de Português”) é responsável pelos capítulos correspondentes às partes II e V, cujo objectivo é responder a dúvidas frequentes com respostas justificadas, especialmente sobre ortografia – há um capítulo dedicado ao novo acordo ortográfico.

Organizada por ordem alfabética, esta parte, que funciona como “colectânea de formas correctas”, é de fácil consulta, apresentando os casos como “dúvida” e “resposta” e contendo bastantes exemplos, explicados de forma acessível.

Por sua vez, Elsa Rodrigues dos Santos escreve os capítulos das partes I, III e IV, nos quais aborda questões gramaticais de natureza estilística, morfológica, sintáctica e semântica.

Trata-se de um conjunto de capítulos muito importante para perceber (e aprender) como funciona a língua – e porquê. Incluem-se neste âmbito temas como valores estilísticos, classes de palavras, concordância, sintaxe ou semântica. Também aqui se recorre à tipologia “dúvida”/“resposta” na apresentação de exemplos.

Se é daqueles que frequentemente confunde “porque”, “por que” e “porquê” já tem uma boa razão para consultar esta obra…

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Elsa Rodrigues dos Santos e D’Silvas Filho

Grandes Dúvidas da Língua Portuguesa – Falar e escrever sem erros

A Esfera dos Livros, 19€