Leonor Figueiredo | O Fim da Extrema-Esquerda em Angola


1-De que trata este seu livro «O Fim da Extrema-Esquerda em
Angola»?
R-Faz o retrato da uma esquerda angolana, radical, maoista, perseguida pelo
MPLA. Em Angola, depois do 25 de Abril, nasceram e cresceram organizações de
esquerda, com jovens de várias tendências políticas, tal como em Portugal. Essa
liberdade durou pouco tempo. Logo depois do MPLA se apoderar do poder pela
força das armas, em finais de 1975, começou a prender jovens de tendência
maoísta, activistas nos bairros populares, seguindo-se-lhes estudantes da
Universidade de Luanda e do Ensino Secundário, que continuaram a ser apanhados
em ondas de prisões, a mando do regime do então presidente Agostinho Neto.
Muitos destes presos políticos só foram libertados, em 1980, depois de várias e
prolongadas greves de fome na prisão. Os maoístas encontraram-se nas prisões
com outros jovens de esquerda, pró-soviéticos, acusados de envolvimento no
alegado golpe de Estado de Nito Alves, a 27 de Maio de 1977. Muitos destes
últimos foram barbaramente assassinados.


2-Que factos novos a sua pesquisa permitiu desvendar nesta obra?
R-Esta história nunca chegou verdadeiramente ao grande público. Houve
referências do jornalista Claude Gabriel, em 1978 e do historiador Michel
Cahen, em 1989, mas a investigação mais profunda sobre os Comités Amílcar
Cabral e a Organização Comunista de Angola surgiu em 2001 com o doutoramento do
historiador Jean-Michel Mabeko Tali, cujo livro, editado em Luanda, nem se
encontra nos alfarrabistas. Diria, depois desta explicação, que a primeira mais
valia do meu livro está na explicitação de todo o processo repressivo, qual
filme de terror vivido nas cadeias do MPLA e, a segunda, podemos encontrá-la
nas entrevistas a estes protagonistas dos anos 70, contextualizando-as com os
principais acontecimentos políticos de então.


3-Como estudiosa da realidade angolana, como analisa a situação política actual
em Angola?
R-Gosto de investigar períodos da História Contemporânea de Angola, faceta que
iniciei quando deixei o jornalismo das redacções. Quis saber mais sobre o
período controverso da «descolonização» de Angola – porque o vivi –  e fui levantando de arquivos e de entrevistas
factos e razões desvalorizados ou não mencionados nos livros dos militares e
dos políticos portugueses então intervenientes no processo. Também me
influenciou o facto de ter sido contemporânea desta geração. Conheci e convivi
em Luanda com alguns destes antigos militantes dos CAC e da OCA, de quem nunca
desconfiei executarem intensas tarefas clandestinas em pleno movimento
estudantil. Hoje, Angola vive tempos sensíveis. Muitos desejam a mudança, um
país mais aberto a todos, democrático. Mas a verdade é que toda a máquina do
poder está nas mãos dos mesmos. O importante é saber se vai haver, ou não,
manipulação de votos nestas eleições de Agosto.
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Leonor Figueiredo
O Fim da Extrema-Esquerda em Angola
Guerra e Paz  16,90€