Leonel Fadigas | Território e Poder

1- De que trata este seu livro «Território e Poder: o Uso,
as Políticas e o Ordenamento»?
R- O livro trata do território como resultado das ações
humanas e da expressão dos poderes que o definem e organizam, em conjunto com
as condições do meio que dão forma e sentido à sua apropriação e uso. Por isso
os territórios que habitamos são, por isso, resultado e consequência da
evolução tecnológico que acompanha a evolução social e económica, são também o
resultado e a expressão da história física, social e política de quem os
habitou e habita. O livro organiza-se em duas partes: a primeira, tratando da
posse, uso e organização do território e da origem matricial das estruturas que
dão forma aos modos como o território se foi organizando em diferentes tempos e
circunstâncias sociais e políticas; a segunda parte, dedicada à apresentação de
casos exemplares de políticas de incidência territorial e das suas
consequências, mostra como, na prática, se revelam as relações e as interações
entre poder e território e entre território e poder. Razão porque este livro se
destina a todos quantos o ordenamento interessa por razões profissionais ou
porque dele depende a sua qualidade de vida: arquitetos, urbanistas, geógrafos,
economistas, políticos e, sobretudo, cidadãos interessados em participar na
feitura de um território mais coeso, mais sustentável, onde a economia seja
mais humana e mais social.
2 – A expressão «território» está cada vez mais presente no
discurso a vários níveis: mas o que significa realmente a palavra?
R- O território é um espaço geográfico e cultural sobre o
qual se exerce um qualquer tipo de poder e no qual se estabelecem redes que o
formatam, consolidam, expandem, garantindo no tempo a persistência das marcas e
valores simbólicos que o identificam. Mas é também, pela sua natureza, um
produto humano que exprime os poderes que o definem e organizam e sendo tanto
um suporte de vida e de atividades económicas como, a cada momento, a
consequência e o registo dos modos de organização social, das relações de
poder, dos níveis de desenvolvimento económico e das tecnologias disponíveis.
Até porque é o poder que permite formatar e delimitar e alargar os territórios,
estruturando-os e adaptando-os às necessidades das comunidades que os habitam
ou que a eles chegam por descoberta, invasão ou conquista.
3- O território que mais nos interessa é o que nos envolve e
onde vivemos. Fala-se agora muito no seu ordenamento como factor de qualidade
de vida. Mas a gestão desse território não continua a ser (demasiadas vezes) um
acto de poder e associado ao seu exercício?
R- O ordenamento do território é sempre a expressão de um
exercício do poder que sobre ele se exerce, de forma pacífica ou não, por quem
tem o poder de ocupar e organizar. Nos Estados modernos o exercício deste poder
está cometido à adminitração pública, central, regional ou local que o ajusta e
adapta às necessidades da sociedade, compatibilizando usos e funções e
garantindo a sua utilização pelas sucessivas gerações atuias e futuras. Por
estas razões, o ordenamento do território organiza e disciplina, como contrato
social, nos Estados modernos e democráticos, o exercício do conjunto dos
poderes, direitos liberdades e garantias que se exercem e atuam no território.
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Leonel Fadigas
Território e Poder: o Uso, as Políticas e o Ordenamento
Edições Sílabo  14,70€