Laurentino Gomes | 1808

1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «1808»?

R- Este livro é a investigação jornalística mais longa, profunda e exaustiva que fiz nos meus trinta anos de carreira profissional. Foram dez anos de trabalho, nos quais li ou consultei mais de 150 outros livros e fontes diversas sobre o tema. O objetivo é atingir um público mais amplo e levá-lo a refletir sobre as raizes do Brasil, profundamente plantadas em Portugal. Todas as virtudes e defeitos brasileiros já estavam presentes duzentos anos atrás, quando a corte de D João chegou ao Rio de Janeiro. Já havia naquele tempo muito corrupção, muito nepotismo, muita ineficiência nos negócios públicos e muita desigualdade social, em virtude da escravidão. Mas também estava nascendo ali o Brasil que temos hoje, grande, integrado, de dimensões continentais, com uma uma língua e uma cultura bem definidas e relativamente tolerante do ponto de vista racial, político e religioso. Somos a grande invenção de Portugal no mundo. Portanto, para o bem e para o mal, somos herdeiros diretos desse período. É como se fosse o nosso DNA, nosso código genético.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- O livro nasceu de uma pauta de reportagem que nunca foi publicada na revista Veja. Em 1997, eu era editor-executivo da revista. Tales Alvarenga, o então Diretor de Redação, já falecido, pretendia publicar uma série de especiais históricos, que seriam distribuídos com a edição regular como brinde para seus leitores. O projeto incluiria o Descobrimento, a Inconfidência Mineria, a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil e a Independência. Desses três, apenas o primeiro foi publicado, no ano 2000. Quanto ao especial sobre D João VI, que estava sob minha responsabilidade, a revista decidiu cancelá-lo. O plano mudou, mas eu segui em frente, movido pela paixão que o tema e os personagens me despertaram.


3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Meu próximo livro será sobre a Independência do Brasil. O título, por razões óbvias, será “1822”, a ano em que nos separamos de Portugal. Já estou bem avançado nas pesquisa e espero lançá-lo em setembro de 2010. Pretendo mostrar que país era este que a corte de D. João deixava para trás ao retornar a Lisboa, em 1821. Em seguida, vou tratar do Grito do Ipiranga propriamente, em 7 de setembro de 182, das enormes dificuldades do Primeiro Reinado, da abdicação de D. Pedro, em 1831, sua volta a Portugal para enfrentar o irmão, D. Miguel, que havia usurpado o trono, e a morte em 1834, no mesmo quarto em que nasceu, no Palácio de Queluz. O planejamento inicial da obra prevê cerca de 25 capítulos que, provavelmente, se desdobrarão em outros seis ou sete até chegar a uma estrutura parecida com a do “1808”. O estilo será o mesmo do “1808”: capítulos curtos, pequenos perfis dos personagens e linguagem acessível.
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Laurentino Gomes
1808
Livros d´Hoje, 18,85€

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