Laurent Binet: Uma subversão histórica

CRÓNICA
| agostinho sousa

Este livro é uma subversão histórica. Pega no passado e reescreve-o de maneira bem diferente. Promove os vencidos da História a vencedores, invertendo a lógica expansionista do Ocidente, com o domínio dos ameríndios sobre os europeus.
Na contracapa do livro surge esta pergunta: «E se, em vez de Colombo ter chegado à América, tivessem sido os Incas a chegar à Europa?» Mas o livro vai muito além dessa hipotética chegada a Espanha, propondo uma vertente expansionista dos Incas pela Europa do século XVI.
Desde a narrativa inicial, com os Vikings, até ao encontro final entre Cervantes e Montaigne, a história será transfigurada com base numa imaginação prodigiosa, plena de episódios surreais, mas bem alicerçada, onde algumas das principais figuras históricas nossas conhecidas não deixam de constar da nova narrativa, mas com significativas alterações dos seus cargos, importância e ações. Como se tudo se alterasse e necessitássemos de reaprender o que conhecemos da civilização transatlântica desse período.
A título de exemplo, basta pensarmos na (im)possibilidade de  Pedro Pizarro (conquistador espanhol dos Incas) surgir na corte espanhola como pajem da rainha Higuenamota (mulher de Atahualpa, o imperador Inca).
Muito mais poderia ser dito sobre o livro, apresentando episódios divertidos e mesmo hilariantes como o anterior, mas tirariam o gozo de quem nele venha a penetrar, através de uma leitura de escrita limpa, objetiva e despretensiosa mas muito criativa.
Apetece pedir ao autor a continuidade pós-Cervantes/Montaigne até um futuro próximo dos nossos dias.

Espinho, 04 de dezembro de 2021
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Laurent Binet
Civilizações
Quetzal  19,90€

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