José Teles Lacerda | A Vingança das Vagas

1-O que representa, no contexto da sua obra o livro “A
Vingança das Vagas”?

R-Sendo uma obra de estreia, “A Vingança das Vagas” será
sempre um emotivo passo pioneiro. A condição de primogénita filha única
impossibilita a sua contextualização, relativamente ao percurso criativo do
autor. Como assumido agente paternal, apenas posso afiançar que este livro
provocou as sensações inerentes aos audazes mergulhos no escuro. Comecei por
palpar a forma das palavras e descobri-me a moldar personagens e a erguer
enredos. De certa forma, o livro sabe a um primeiro beijo. A consumação de reprimidos
afagos. A concretização de um desejado devaneio.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?

R-O romance “A Vingança das Vagas” brotou do fértil conceito
de oceano. A enormidade do mar e a imensidão da imortalidade emaranhadas num
intenso esforço de unificação.

No início, estabeleci que no ventre das vagas vogariam
fatais criaturas vingativas. Contudo, como as sereias e os cavaleiros de
Neptuno assumiram ser entidades irreais, foi necessário acrescentar a
persistente voz narrativa de um idoso e a insaciável curiosidade da fantasia de
uma criança. Inesperadamente, sem saber como, fiquei rodeado de fascinantes
entidades atormentadas. Uma multidão de almas condenadas exigia participar na
narrativa. Em silêncio, suplicavam pela castigadora acometida de femininas
criaturas lendárias. Após a conclusão da
obra, verifiquei que tinha libertado um intenso aluvião de sentimentos. Eu,
José Teles Lacerda, estava emocionalmente desnudo.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?

R-Neste momento estou a escrever um romance pautado pelas
regras do fantástico. A narrativa fala de corajosos combatentes loucos. Aos
poucos, as páginas estão a ficar repletas de vísceras e sangue. Contudo, no
seio da bizarra irracionalidade da besta chamada guerra, existe uma personagem
que vai encontrar a sua remissão. Entre os cadáveres e os escombros, nascerá
uma grande paixão.