José Luís Correia: Diário erótico de Gaspar W.
Uma leitura de Inês Marques
Alexandre Gaspar é um luxemburguês solteiro na casa dos 30 anos que tem uma vida amorosa pouco convencional e muito instável. Assim, escreve um popular blogue com detalhes sórdidos sobre os seus encontros escaldantes e aventuras sexuais com dezenas de mulheres.
Através da entradas da sua página web transcritas neste livro, vamos percebendo que Gaspar adota um comportamento compulsivo e desligado das emoções no que diz respeito à sua vida sexual. No entanto, somos também surpreendidos por momentos de algum carinho e fragilidade emocional que nos levam a questionar sobre as verdadeiras intenções deste homem.
Embora sejam muitas as personagens femininas da sua vida, destacam-se três que conduzem o desfecho deste diário. Mariana está louca por ele e persegue-o constantemente. Cristina é a sua esposa que fugiu logo após o casamento e que Gaspar procurou incessantemente, mas não voltou a encontrar. Maria Helena é a sua paixão que este afasta por medo dos seus próprios sentimentos e do compromisso que teria de estabelecer com ela. Deste modo, Helena acaba por casar com outro homem, atirando o protagonista para o abismo.
O diário acaba, assim, em tom melancólico, já que Gaspar é confrontado com o facto de que o seu comportamento pouco ético para com várias mulheres as pode ter destruído tal como Maria Helena partiu o seu coração ao casar com Marco. Neste sentido, vai indagar-se sobre todas as suas ações e sobre o seu futuro enquanto homem.
Em suma, este é um livro para quem não está preso a convenções sociais novelescas sobre o amor e o sexo. Os detalhes são crus, brutais e até chocante, mas são o reflexo de um ser humano profundamente magoado pelas expectativas e sonhos sempre adiados.
3 Perguntas a…
José Luís Correia
1-“Os Cadernos do Gaspar” é o seu primeiro romance: como espera olhar para ele daqui a 20 anos?
R- O romance foi escrito há pouco mais de dez anos e demorei muito tempo a corrigir, reescrever, procurar uma editora e, portanto, já olho para ele de uma forma diferente do que quando o escrevi. Estou agora a traduzi-lo para francês e a tentação é grande de começar a reescrever partes ou parágrafos inteiros, porque hoje já não os escreveria assim. Sem terem ainda passado 20 anos, já o considero um romance de juventude.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- As histórias deste romance nasceram num blogue que tinha como nome “Os Cadernos do Gaspar”, daí o título. Inicialmente, abri o blogue para me impor a disciplina de escrever todos os dias, não era propriamente a pensar escrever logo um romance. No blogue, eu publicava fotos, reflexões, relatos do meu dia, histórias fictícias esparsas que não tinham obrigatoriamente ligações umas com as outras nem eram todas de cariz erótico. A dado momento, reparei pelos comentários que os leitores deixavam no blogue que estes queriam, exigiam, interação entre certas personagens desses episódios e comecei a perceber que havia ali um caminho a explorar. Foi a partir daí que comecei a estruturar melhor os episódios que ia publicando, repesquei personagens recorrentes e delineei para onde queria levar a história. Defini vários objetivos: eu queria escrever um romance erótico, era um género que queria explorar porque achava, e continuo a achar, que não há muitos exemplos de romances de maior fôlego desse género em Portugal. Depois, queria que a ação se desenrolasse no Luxemburgo, não só, mas também, que é a realidade que eu conheço e porque considero que não existem romances suficientes sobre a emigração portuguesa. E foi assim, escrevi com regularidade diária, ou quase, como se o fizesse num verdadeiro diário, e ao fim de um ano tinha o romance pronto.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou com vários projetos nos carris ao mesmo tempo. Dado o sucesso deste primeiro romance, pelo menos no Luxemburgo, onde a comunidade portuguesa e lusófona representa um quarto da população do país, fui quase obrigado a trabalhar imediatamente na sua tradução para francês, já que graças aos portugueses o romance também tem tido impacto nos que não lêem português mas ficaram curiosos de ler um romance erótico que decorre no Luxemburgo, que é considerado um país super conservador. Estou também, em simultâneo, a escrever a prequela e a sequela destas aventuras do Gaspar. A trilogia não é algo em que eu tinha pensado inicialmente, mas se há histórias do Gaspar para contar é nesta sequência que para mim têm lógica. Não penso ir além disso com esta personagem. Tenho dois outros romances iniciados de teor completamente diferente, um de antecipação, que se poderia inscrever no que os anglo-saxónicos chamam de “hard science-fiction” e outro que é uma saga familiar. Como escrevo igualmente poesia e poesia erótica, estou de momento a ordenar esses meus textos e a prever uma publicação em 2021, em versão bilíngue.
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José Luís Correia
Os Cadernos do Gaspar (Diário Erótico de Alexandre Gaspar W.)
Edições Mahatma 20€