Jorge Pinto: “A liberdade deve ser promovida mas não à custa da destruição da ecosfera”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste livro “Liberdades dos Futuros”?
R- O ponto de partida foi uma dúvida que me surgiu há cerca de 8 anos, quando comecei a interessar-me pelo conceito de rendimento básico incondicional: se, em média, aqueles que mais riqueza têm são aqueles que têm um maior impacto ecológico, porque devem os ecologistas ser favoráveis, como são na sua maioria, a um rendimento básico incondicional. Esta simples pergunta levou-me a um doutoramento em filosofia política onde tentei encontrar resposta para a mesma, levando-me a novas perguntas e novos conceitos, tais como o pós-produtivismo e uma visão alternativa de liberdade que se adeque aos desafios sociais, económicos e ambientais do século XXI. Curiosamente, foi numa das mais antigas conceções de liberdade – a republicana – que encontrei as respostas que procurava.

2-Pode sintetizar a ideia de ecorrepublicanismo que percorre o livro?
R- O ecorrepublicanismo, como lhe chamo, é uma atualização da teoria política republicana, nascida há mais de 2000 anos, aos olhos da ecologia e dos desafios do século XXI. Outrora sinónimo exclusivo de emancipação, a ideia de liberdade tem sido corrompida por uma visão que a concebe apenas como não-frustração e não-limitação — uma concepção egoísta que deve ser contestada. O ecorrepublicanismo recupera, à luz dos desafios do século XXI, a ideia republicana de liberdade enquanto não-dominação. E propõe uma política ecorrepublicana que promova o florescimento humano através da construção de uma república não dominadora e ecologicamente sustentável. É importante notar que a própria definição de liberdade é uma luta permanente – e isso por uma boa razão: quem, afinal, não quer mais liberdade? Assim, conseguindo-se definir de forma hegemónica o que significa “liberdade”, fica mais fácil avançar-se com um projeto político. A liberdade tal como entendida pelo ecorrepublicanismo baliza assim esse conceito: a liberdade deve ser promovida mas não à custa da destruição da ecosfera, numa espécie de fuga para a frente niilista e, em paralelo, a defesa da ecosfera não pode ser feita à custa da liberdade, como seria o caso em visões eco-fascistas e eco-autoritárias.

3-Depois de muitos anos em que se falou em “pensar global/agir local”, uma das suas propostas é algo de muito diferente e baseia-se em “pensar local/agir global”: vantagens desta sua visão?
R- Na verdade, as duas visões são importantes e complementares. O grande problema desse tão famoso slogan “pensar global/agir local” – tal como de outros slogans ambientalistas tais como o “faça a sua parte” – é que coloca o ónus na ação individual e na pequena escala. Ora, por mais importante que seja – e é -, esta ação individual será sempre limitada e acaba por acabar as diferenças de responsabilidade e as diferenças de poder. Revertendo esse slogan, conseguimos pensar de forma mais estrutural: como posso eu preservar o ambiente que me rodeia, o solo que trabalho, a água que bebo, o ar que respiro? As respostas a essa pergunta têm de, invariavelmente, passar por uma escala nacional, transnacional e também global porque se há coisa que não conhece fronteiras são os problemas ecológicos.
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Jorge Pinto
Liberdades dos Futuros
Tinta-da-China  16,90€

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