Jorge Cristino: “Compreender porque é que as cidades desempenham um papel tão importante”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «A Missão das Cidades no Combate às Alterações Climáticas»?
R- A ideia base deste livro, cujo tema é bastante atual e pertinente, foi aliar a governança multinível com as alterações climáticas, isto é, as relações internacionais com o ambiente, salientando a importância que as cidades e as suas redes desempenham no compromisso das metas estabelecidas pelos Estados ao nível internacional. É um contributo para a paradiplomacia e para que as cidades ocupem, em definitivo, um lugar na discussão, nas decisões e na coresponsabilidade de um objetivo coletivo, o do combate às alterações climáticas e do êxito da saúde planetária. Mas, não sem antes, fazer ao longo da obra todo um diagnóstico ao nível demográfico, climático e ambiental e uma descrição dos impactos que as cidades criam e estão sujeitas com o agravamento dos eventos extremos climáticos, terminando com soluções e recomendações que podem ser aplicadas ao nível local e ao nível central, promovendo um desenvolvimento sustentável.
2-De que forma as cidades e os seus governos podem contribuir para alterar o rumo dos acontecimentos?
R- Primeiro, é importante compreender porque é que as cidades desempenham um papel tão importante. Em 2050, estima-se que as cidades concentrarão 68% da população de todo o mundo. Em Portugal, também em 2050, estima-se que serão perto de 80% dos habitantes a viver em cidades. Por outro lado, as cidades que representam 75% do PIB mundial, são também responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito de estufa, apesar de apenas ocuparem 3% do território no planeta. Acrescentar a isto, é nas áreas urbanas que se atingem os maiores e piores impactos das alterações climáticas e onde existem maiores vulnerabilidades e desigualdades. Por isso, é nas cidades que se joga o tudo ou nada para alterarmos o rumo dos acontecimentos. É com as autarquias que se consegue criar uma relação de proximidade com os cidadãos para se adaptarem novos hábitos de vida e de consumo e é com as autarquias que se consegue estabelecer uma relação de compromisso com os governos centrais e as organizações internacionais. Assim, este livro aponta para um conjunto de soluções pragmáticas e apresenta algumas das boas práticas já existentes, que vão desde o ordenamento do território, ao uso do solo e dos recursos naturais, à mobilidade, à energia, à fiscalidade e às finanças verdes, abrangendo todos os conceitos de sustentabilidade existentes que vão desde a mitigação e adaptação às alterações climáticas, à resiliência, à economia circular, à descarbonização, ao decoupling, aos ESG, BIGG, entre muitos outros.
3-O combate às alterações climáticas vai obrigar a mudanças profundas na vida de milhões de pessoas, designadamente das que vivem em cidades: ainda vamos a tempo ou é um desafio perdido?
R- Vamos sempre a tempo. Com mais ou menos esforço, com mais ou menos impacto e perdas, vamos sempre a tempo. Mas sem dúvida com profundas mudanças na vida das pessoas e das organizações. Primeiro, com uma profunda alteração no modelo económico com que a sociedade contemporânea assentou, abandonando progressivamente o capitalismo, mas mantendo a globalização, alimentando a cooperação e multilateralismo. Segundo, na forma de viver e consumir, teremos que viver melhor com menos, teremos que saber viver diferente. Terceiro, encontrar novas formas, mais sustentáveis, de energia, de mobilidade, produção agrícola e de construção. Quarto, evoluir tecnologicamente para soluções que consigam compensar a nossa pegada ecológica e acelerar a transição para uma sociedade neutra do ponto de vista de impacto ambiental. É uma questão de sobrevivência da Humanidade, continuando a garantir a felicidade e uma boa qualidade de vida para as gerações vindouras com saúde planetária. No fim do dia é isso que se pretende, continuarmos a existir enquanto espécie com desenvolvimento do conhecimento, da economia, da sociedade, do bem-estar e com o menor impacto possível no ambiente e sem esgotar os recursos naturais.
__________
Jorge Cristino
A Missão das Cidades no Combate às Alterações Climáticas
Guerra e Paz 15€