Jon Fosse: Simples e triste e alegre ao mesmo tempo, mas acima de tudo é tocante
CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha
É verdade que nunca tinha lido nada de Fosse, é também verdade que o comprei pelo Nobel recente, mas ainda será igualmente verdade que não é meu hábito correr atrás do prémio sempre que é atribuído. Por qualquer razão desconhecida corri atrás deste. E não me arrependi.
É um pequeno livro que se lê numa tarde e que entra em nós como um pensamento ou uma música. É simples e triste e alegre ao mesmo tempo, mas acima de tudo é tocante.
Do nascimento à morte na velhice sem a vida a atrapalhar pelo meio, porque a vida é difícil para um pescador do norte que não sabe nadar e vomita todos os dias antes de ir para o barco.
Existe um Deus longínquo, sempre longe, sem ter nada a ver com a vida ou a morte. “Do Nada ao Nada” simplesmente.
Mas as mulheres compensam a distância de Deus “é como se observassem a partir de um lugar distante de qualquer lugar possível, e sabem algo que ele próprio não sabe, e ele provavelmente nunca compreendeu inteiramente as mulheres, algo que elas sabem, algo que ele jamais compreenderá, algo que elas nunca dizem ou, mais precisamente, nunca podem dizer porque não pode ser dito”.
Tudo se separa quando nascemos, tudo se separa quando morremos. Lembrei-me de “O Velho e o Mar” ao contrário. Posso estar errado.
É uma escrita dramática sem actores, como se estivéssemos sempre sozinhos no mundo. O primeiro e o último dia, o alfa e o ómega sem as outras letras. Johannes a olhar para as coisas que o definiram “que parecem mais pesadas e mais leves do que são, para as coisas que de certo modo guardam o peso de tudo quanto ele fez com elas, de todo o trabalho a que se prestaram, e que ao mesmo tempo parecem nada pesar, como se ali repousassem perfeitamente calmas e silenciosas e ao mesmo tempo flutuassem o pairassem”.
Uma visita breve aos mortos e aos vivos com uma ideia de céu “Tudo o que amas está lá, tudo o que não amas não está lá”.
A vida não foi fácil, como quase todas “foi difícil pra ti, sei bem disso, vomitavas todas as manhãs ao acordar.”
E aqui seguimos sempre até um dia.
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Jon Fosse
manhã e noite
Cavalo de Ferro 14,39€