Joaquim Vieira: “Nem tudo se cumpriu na perfeição, mas Portugal teve avanços extraordinários após o 25 de Abril”

Joaquim Vieira analisa 50 anos da nossa história mais recente. Tendo como ponto de partida a revolução do 25 de Abril de 1974, uma viagem concisa mas com rigor. E numa linguagem jornalística como se de uma grande reportagem se tratasse. Um livro que é uma das melhores sínteses da história da nossa vida em democracia.
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P-Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro “O que fizemos da nossa liberdade”?
R-O facto de o nosso regime democrático ter cumprido meio século de existência, um marco muito importante em si, mas mais ainda porque já ultrapassou o tempo de existência da ditadura derrubada com a 25 de abril de 1974. Como eu já tinha escrito para a mesma editora (a Objectiva) um livro sobre os 40 anos de democracia em Portugal, pensei que fazia ainda mais sentido publicar outro a propósito dos 50 anos, o que foi aceite.

P-Em 1974, o programa do MFA apontava três grandes objectivos: democratizar, descolonizar e desenvolver. Agora, 50 anos depois do 25 de Abril, que balanço pode ser feito?
R-Faço esse balanço no epílogo do volume. Nem tudo se cumpriu na perfeição, mas Portugal teve avanços extraordinários após o 25 de Abril. Se eu fosse professor e cada um desses três D fosse uma disciplina da qual o nosso regime tivesse de prestar provas, eu daria um 18 à Democratização, um 10 à Descolonização e um 13 ao Desenvolvimento. O fundamento para estas classificações pode ser encontrado nas páginas do livro.

P-Na sua opinião, quais foram os grandes marcos da história da nossa democracia?
R-Além do próprio 25 de Abril, eu diria o primeiro ato eleitoral livre e universal em Portugal (25 de abril de 1975, para a Assembleia Constituinte), o 25 de Novembro de 1975, a promulgação da nossa Constituição (2 de abril de 1976), as eleições de 1976 (primeiras legislativas,  primeiras presidenciais, primeiras autonómicas e primeiras autárquicas), a descolonização (1974-75, e mais tarde  Timor-Leste e Macau, já em 1999)), o tratado de adesão à Comunidade Económica Europeia (futura União Europeia, 12 de junho de 1985), a Expo’98, a atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago (1998) e a adesão à zona euro (concretizada na transição para o século XXI).

P-Pegando no título do livro, a pergunta: o que fizemos da nossa liberdade?
R-Soubemos protegê-la bem, mas podíamos feito mais e melhor com ela.

P-A nossa história é também ela feita de personalidades muito conhecidas como Mário Soares, Álvaro Cunhal ou Francisco Sá Carneiro. Do seu ponto de vista, nos 50 anos que analisa, que outras personalidades considera essenciais apesar de não terem tanta visibilidade?
R-É uma pergunta de resposta difícil, porque há sempre o risco de deixar alguém de fora ou incluir quem não está à altura. Eu acrescentaria Otelo Saraiva de Carvalho, Fernando Salgueiro Maia, Diogo Freitas do Amaral, Francisco Costa Gomes, Ernesto Melo Antunes, António Ramalho Eanes, Aníbal Cavaco Silva, António Guterres (mais por ser secretário-geral da ONU), António Costa (por ter construído uma forma de governo nunca antes tentada no nosso quadro constitucional), José Saramago e Álvaro Siza Vieira.

P-Neste momento, num exercício de prospectiva, consegue imaginar Portugal em 2074?
R-Não consigo, e, como já ouvi alguém dizer, fazer futurologia é insultar o futuro, que deve gozar da sua própria liberdade.
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Joaquim Vieira
O que fizemos da nossa liberdade
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Joaquim Vieira na Novos Livros” | Entrevistas

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