João Teixeira Lopes: Sobre as Classes Médias

1-Qual a ideia que esteve na origem deste livro «As Classes Médias em Portugal»?

R- Analisar com profundidade a estrutura de classes da sociedade portuguesa, uma vez que a classe “conta” para interpretar os comportamentos e as relações sociais, particularmente num país tão desigual como o nosso. A análise de classes permite desmontar mitos como o da determinação individual das escolhas (a crença, tão arreigada, de que o indivíduo é o demiurgo exclusivo do seu percurso…) ou da naturalização de certas relações de força. Por outro lado, as classes médias são o excitante fundamental do discurso político hegemónico. Importava responder a esta interpelação: será que as classes médias em Portugal correspondem ao retrato robot que o discurso dominante delas traça?

 2-Esta obra surge depois de «Os Burgueses» e «As Classes Populares»: temos nesta trilogia um retrato fiel da sociedade portuguesa de início do século XXI?

Este livro surge por três razões interligadas entre si. Em primeiro lugar, resulta de uma saudável pressão por parte da editora para completarmos a análise da estrutura de classess em Portugal. A segunda, mais substantiva, liga-se a uma certa vontade dos autores em abordarem esta constelação heterogénea que alimenta tanto a retórica do discurso político hegemónico (“as classes médias são o motor da sociedade, o símbolo do elevador social, o cimento que une, etc., etc.”) como a dos poderes económicos (segundo um empresário português recentemente falecido, a missão dos “empreendedores” seria de transformar os pobres em classe média…). Finalmente, apesar da dualização muito forte da estrutura de classes em Portugal, pareceu-nos que as classes médias mereciam uma análise que não se limitasse ao “nem, nem” (nem burguesia, nem classes populares) e que procurasse, nos diversos domínios de ação (política, cultura, estilos de vida…), conhecer as lógicas da sua formação.

 3-Que conclusões sobre o Portugal contemporâneo podemos retirar a partir desta vossa investigação?

R- Portugal tem uma estrutura de classes fortemente desigual e dualizada e esse é um dos indicadores mais significativos do seu atraso. No caso das classes médias, constatamos a sua reduzida dimensão (por comparação com outros países europeus), a degradação dos seus rendimentos, a sua crescente vulnerabilidade e a descrença, progressiva, nas possibilidades de mobilidade social.
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João Teixeira Lopes/Francisco Louçã/Lígia Ferro
As Classes Médias em Portugal: Quem São e Como Vivem
Bertrand Editora  15,50€
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