João Moita: “A irresistível conclusão de que quanto mais humano mais divino”

1-No ano do centenário de José Saramago, qual o principal legado do escritor?
R-José Saramago foi um autor fundamental na minha formação. Li-o demasiado cedo, ou seja, na altura certa, quando a descoberta de um autor coincide com a descoberta da literatura e se estabelecem os padrões do gosto. No entanto, há muito que não o revisito, e as minhas leituras não são influenciadas por efemérides impostas por um calendário alheio aos meus próprios ritmos e desideratos. Assim, torna-se-me difícil dizer outra coisa sobre o assunto que não as banalidades da praxe, pelo que me absterei. É possível, porém, que um legado do Saramago, e não dos menos importantes, se relacione com a atitude que acabo de patentear.

2-Qual é o seu livro preferido escrito pelo nosso Nobel?
R-Poucos livros me marcaram como o Evangelho segundo Jesus Cristo.

3-Razões dessa escolha?
R-Entre muitas que não estou em condições de aduzir pelas razões que apontei acima, a prova provada de que um humano não é pior escritor do que o Espírito Santo — o que não me causa particular admiração, tamanha desconfiança me suscita a pomba divina —, e a irresistível conclusão de que quanto mais humano mais divino, e vice-versa, pelo que tudo se perde e nada se ganha quando se tenta separar as águas e levar para o lado de lá o que só tem cabimento no lado de cá.
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João Moita, Escritor