João Bouza da Costa | Travessa d’Abençoada

1-Sendo este o seu primeiro romance, que autores considera terem sido inspiradores da sua prosa?
R-A influência mais remota e talvez decisiva terá sido uma peça de teatro radiofónico que ouvi há muitos anos, ainda na Alemanha: Under the Milkwood, de Dylan Thomas; pelo lado pícaro, por vezes truculento, algumas coisas de Lobo Antunes (As Naus); acrescente-se uns pozinhos das correntes da consciência da Virginia Wolfe e talvez os Contos de Saul Bellow.
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Não houve uma ideia original. O livro foi um work in progress que se arrastou por muitos anos. Como tradutor sempre trabalhei em casa e através da minha “janela indiscreta” ia ouvindo o que as pessoas diziam. Comecei a tirar apontamentos. Mais tarde, achei que talvez pudesse juntar os muitos fragmentos que guardava na gaveta e então sim, tive a ideia de os reunir numa única narrativa com uma estrutura muito simples, quase clássica: 24 horas da vida da minha travessa. Numa última fase, e à medida que as  personagens iam ganhando vida e complexidade, esforcei-me por manter essa unidade de espaço e tempo. Mas há por lá alguns andarilhos e flanneurs empedernidos que não consegui controlar.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever nesse momento?
R-Já escrevi alguma coisa mas acho que não presta, deve ir tudo parar ao lixo. A literatura não se compadece com essas urgências mediáticas. Admito que tenho umas ideias, mas não posso nem quero falar nisso. Há assuntos que preciso compreender, “dossiers” que tenho de estudar. Pretendo mudar de ares, montar, anotar sonhos e pesadelos, cozinhar petiscos para a família e abrir umas garrafas com amigos, antes que a ascese da escrita se instale de novo.

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João Bouza da Costa
Travessa d’Abençoada
Sextante Editora, 16,60€