Joana Roque: “Cozinhar é um acto de amor”
Depois do sucesso editorial de “Feito em Casa”, Joana Roque volta ao convívio dos amantes da culinária com “Cozinhar, Celebrar e Partilhar”, livro que está já no top de vendas de algumas livrarias. São mais receitas simples e saborosas, cuja confecção está ao alcance de todos quantos gostam de juntar família e amigos à volta de uma mesa… bem recheada de coisas boas.
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P – Este livro é uma continuação do “Feito em Casa” ou traz algo mais, além de novas receitas?
R – O “Cozinhar, Celebrar e Partilhar” é uma continuação natural do “Feito em Casa”, e também do blogue, onde se continuam a contar histórias e, principalmente, a partilhar receitas, sugestões e o prazer de cozinhar e de estar à volta de uma mesa a celebrar com aqueles que são importantes para nós.
P – Face a um mercado repleto de livros de chefes, a que atribui o sucesso dos seus livros, já que não é uma “profissional”?
R – Provavelmente deviam ser os “leitores” a responder a esta pergunta, mas acho que se deve à simplicidade das receitas, aos ingredientes básicos e à fácil execução. As pessoas identificam-se com aquilo que cozinho, porque utilizo os mesmos ingredientes que elas têm disponíveis nas suas casas todos os dias. Além disso, como não sou profissional, é muito mais fácil pensar que “se ela consegue fazer, eu também consigo”. E depois há sempre a proximidade com as histórias que partilho e com que é fácil identificarem-se.
P – A sua obra, tal como a anterior, é muito coloquial e até mesmo intimista. Considera que é esse o segredo do êxito?
R – Não sei se é o segredo do êxito, mas creio ser algo de que as pessoas gostam muito. Para mim era importante manter essas histórias e essa partilha, porque são elas que definem a maneira como eu gosto de cozinhar e as histórias por detrás das receitas que faço. E é isso que torna uma receita banal numa receita especial.
P – Um prato especial é realmente um “ingrediente” fundamental para uma boa celebração?
R – Não necessariamente um prato especial, mas sim o facto de que qualquer prato pode tornar-se especial apenas porque é cozinhado para comemorar algo, nem que seja o jantar de todos os dias, em que a família está reunida à volta da mesa. É essa a mensagem deste novo livro: fazer de todos os momentos uma partilha e uma celebração com receitas simples, e tornar assim essas receitas especiais, porque estão ligadas a momentos felizes.
P – A confecção de um prato é um acto de amor? A sua experiência confirma-o?
R – Para mim cozinhar é um acto de amor. É transmitir através da comida o quanto gostamos das pessoas, é fazer-lhes o prato favorito e depois, à volta da mesa, podermos comemorar o facto de estarmos juntos e gostarmos uns dos outros. É inevitável não haver amor em tudo isto.
P – Por que decidiu dividir o livro em ocasiões específicas, apresentando ementas completas, das entradas às sobremesas? Parece-lhe que a maioria das pessoas tem dificuldade em fazer essa conjugação?
R – Às vezes é difícil decidir o que fazer para um jantar de amigos ou de família. Andamos de volta das receitas e parece que não conseguimos decidir-nos. Esta divisão é apenas uma sugestão do que podemos fazer e que pode simplificar a tarefa a algumas pessoas. Faz sentido para mim, que começo sempre por decidir uma ementa completa antes de qualquer celebração. Então, porque não dividir assim o livro?
P – Dá novamente uma atenção particular à economia doméstica. Porquê?
R – Porque para mim é parte integrante da cozinha e das tarefas de casa. Sempre cozinhei a tentar otimizar ingredientes e recursos, sem desperdiçar nada. Foi assim que me foi ensinado e é assim que tento transmitir a minha forma de estar e de cozinhar. Além disso, acho que ao longo dos anos muitas pessoas se foram esquecendo destes simples ensinamentos das avós. Esta é apenas uma forma de reavivar as memórias e de mostrar como muitas vezes se pode fazer muito com pouco.
P – A que atribui o crescente interesse dos portugueses pela culinária?
R – Acho que começou como uma moda, mas aos poucos começa mais a ser um hábito. Algumas pessoas que não costumavam cozinhar perceberam que até têm muito jeito para a cozinha, outras aperceberam-se que é muito mais divertido e acolhedor receber os amigos e a família em casa do que num restaurante. Talvez tudo tenha começado porque o poder de compra das pessoas diminuiu, mas creio que muitas continuam porque descobriram o verdadeiro prazer de cozinhar para si e para os outros.
P – O prazer da boa mesa é compatível com os tempos de crise e de obsessão por dietas que marcam a actualidade?
R – Comer bem e ter uma mesa farta não significa comer alimentos caros ou gastar muito dinheiro em comida. Podemos ter o prazer da mesa com refeições mais económicas. Quanto às dietas, não posso falar muito porque também eu preciso muito de perder uns quilinhos e custa-me imenso ter de perder algum desse prazer da mesa…
P – Sente-se realizada com o rumo que a sua vida seguiu ou se recebesse uma oferta de trabalho na sua área de formação (Turismo) abandonava a culinária?
R – Sinto-me feliz e muito realizada, porque neste momento estou a fazer algo de que gosto muito. Mas não sei o que o futuro me reserva e por isso tento viver um dia de cada, vez sem fazer grandes planos. Não planeei dois livros de culinária e eles aconteceram. Não gosto de pensar em “se”.
P – Já ponderou abrir o seu próprio restaurante?
R – Não. Algo de que não gostava nada era de ter um restaurante. Gosto de cozinhar para os meus amigos e para a minha família, sempre numa perspetiva muito intimista e muito “homemade”. Um restaurante tirava esse encanto, partilha e celebração com aqueles de quem gostamos e para quem cozinhamos com amor.
P – Pensa continuar a cozinhar e a partilhar com os leitores as suas experiências?
R – O blogue mantém-se há quase seis anos com receitas diárias de segunda a sexta, e é algo que gosto muito de fazer. Nunca o fiz por obrigação. Adoro a partilha diária com os leitores e aprendo muito todos os dias e sempre pretendi mantê-lo desde o primeiro livro.
P – Para quando o próximo livro?
R – Nunca se sabe quando pode surgir um novo projeto… Mas para já há que saborear as coisas boas do “Cozinhar, Celebrar e Partilhar”.
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Joana Roque
Cozinhar, Celebrar e Partilhar
A Esfera dos Livros, 20€