Joana Bértholo: “Um legado imaterial assente nos valores humanistas e no questionamento da condição humana”

[Foto: Vitorino Coragem]
1-No ano do centenário de José Saramago, qual o principal legado do escritor?
R-A obra, necessariamente. A ela associado, e dela indissociável, existe um legado imaterial assente nos valores humanistas e no questionamento da condição humana que encontramos em todos e em cada livro de José Saramago. Se à obra a temos sabido ler, aos valores nem sempre os conseguimos honrar; nomeadamente, quando instrumentalizamos o legado, a começar pelo nome, e o reduzimos a uma marca geradora de valor económico.

2-Qual é o seu livro preferido escrito pelo nosso Nobel?
R-Não tenho um favorito. Há autores cuja obra é tão ampla e importante que inauguram territórios, as diferentes paisagens são precisas para se conhecer esse país maior — não consigo escolher uma. O primeiro contacto deixa uma marca especial, e essa relação com O Memorial do Convento é inesquecível. Só que tive o azar de o ler em contexto escolar, o que me roubou o deleite de tantas obras importantes; portanto é mais tarde, quando começo a ler Saramago por motivação própria, que residem as melhores memórias. Muito recentemente li O Homem Duplicado a propósito de uma criação teatral nele inspirada, e foi com imenso prazer que revisitei a mestria com que o autor domina a forma, a linguagem, o sentido de humor e a profunda inteligência de José Saramago.
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Joana Bértholo, Escritora