J. Rentes de Carvalho: Melhor Livro de Ficção 2016

O prémio de Melhor Livro de Ficção/2016, da Sociedade
Portuguesa de Autores (SPA), foi atribuído ao romance O Meças, de J. Rentes de Carvalho.
O romance O Meças conta uma história de violência e vingança, a de António Roque, homem atormentado, possuído pelo demónio das suas próprias memórias. As imagens do passado transformam-no num monstro capaz do piores atos, maltratando a família e os mais próximos. Depois de anos emigrado na Alemanha, António Roque – o Meças – regressa à sua aldeia de origem. Com ele vivem o filho (que detesta) e a nora (a quem deseja, mas inferniza a vida), atemorizando, de resto, todos os que com ele se cruzam. Uma história de violência, em que a progressiva definição dos contornos da memória revelará novas e dolorosas verdades.
J. Rentes de Carvalho reagiu à atribuição do prémio de
Melhor Livro de Ficção da Sociedade Portuguesa de Autores desta maneira:
«É muito o que se pode aprender na escola, e importante, se
não essencial, o que se aprende no dia-a-dia. Esta afirmação faço-a eu sem autoridade nem experiência, antes por ouvir dizer. Na escola fui por vezes cábula e repontão, mas, sorte que me coube, entrei na vida e tenho andado neste mundo com passaporte de turista, alegremente e à ligeira. É assim que há quase
nove décadas por cá passeio, interessado em ver, divertir-me e maravilhar-me, mas pouco hábil em participar, tendo apenas feito o indispensável para, sem grande embaraço meu ou irritação alheia, dar pouco nas vistas e manter uma aparência de funcionamento normal em sociedade. 
Por conseguinte, espero que desculpem o meu laconismo, dado que, pelos motivos acima, é quase nula a experiência que tenho da recepção de prémios. Deram-me um em 1939, ao terminar a quarta classe – uma caderneta da
Caixa com 50 escudos – e o segundo vim a recebê-lo em 2012, setenta e três anos depois. 
Razão de sobra para agradecer à SPA o ter premiado O Meças, tanto mais que tenho ouvido dizer que é um mau livro, cheio de sombras e violência, mostrando um Portugal que não existe, e que nem um único dos seus
personagens desperta uma ponta de simpatia.»
José Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de
Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para vários jornais.
Em 1956, passou a viver em Amesterdão, onde se licenciou e foi docente de Literatura Portuguesa, entre 1964 e 1988. Dedica-se, desde então, exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias revistas literárias. A sua extensa obra ficcional e cronista tem sido publicada na Holanda  – e finalmente em Portugal – e recebida com
grande reconhecimento, quer por parte da crítica, quer por parte dos leitores em geral, tendo alguns títulos alcançado o estatuto de bestsellers.
Os seus livros Com os Holandeses, Ernestina, A Amante
Holandesa
, Tempo Contado, La Coca, Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, O Rebate, Mazagran, Mentiras e Diamantes, O Meças e A Ira de Deus Sobre a Europa foram todos editados pela Quetzal, que publicará em breve o novo romance A Sétima Onda.
J. Rentes de Carvalho foi distinguido, em 2012, com o Prémio APE – Associação Portuguesa de Escritores de Escrita Biográfica (com o livro Tempo Contado) e, em 2013, com o Prémio APE – Associação Portuguesa de Escritores para de Crónica, com Mazagran.