J. Rentes de Carvalho: “A vontade de descobrir se seria capaz de vencer a preguiça”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro agora reeditado «Tempo Contado»?
R- Foi uma experiência, mas também a vontade de descobrir se seria capaz de vencer a preguiça, e me obrigar a uma disciplina a que na vida sou avesso. Consegui levar a coisa ao fim, mas estive anos sem vontade de lhe tocar, incomodado de me “ver” de uma maneira que de facto me aborrece, pois creio que nalgumas páginas revelo uma intimidade que toca o infantil. Como está impresso não há volta a dar, e não sofrendo de masoquismo, é escassa a possibilidade de alguma vez o reler.
2-Escreveu este diário em 1994-1995: continuou a escrever um diário (sem o editar) ou este período foi uma excepção em que lhe fez mais sentido o registo dos seus dias?
R- Se sou franco, o registo dos meus dias não vale um pataco, porque raro – se alguma vez – neles acontece algo de especial. Voltei ao diário, editado na Holanda em 2005, e dez anos depois pela Quetzal com o título Pó, Cinza e Recordações. Parecerá um caso de burro velho não toma andadura, mas foi mais para me obrigar em certas ocasiões a não ceder ao abatimento, que muitas vezes me toma de parar com a escrita, porque o que ela me custa em esforço e concentração em geral vai sempre até ao limite, o que nem de longe é saudável.
3-Nas duas últimas entrevistas que lhe fizemos (sobre Montedor e sobre Mentiras & Diamantes), mostrou algum cepticismo sobre os planos futuros da sua escrita: e agora?
R-Nunca fiz planos, sou mais de esperar e ver o que (me) acontece com os rascunhos que me ocupo a fazer. Ideias nunca me faltam, tenho talvez demais, o busílis está em passar da ideia para a escrita e depois ter persistência suficiente para não desanimar ao primeiro revés.
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J. Rentes de Carvalho
Tempo Contado
Quetzal 18,80€
Rentes de Carvalho na “Novos Livros”| Entrevistas