J. Pedro Baltasar | Jaguar

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Jaguar»?

R- O “Jaguar” é um arranque. É o meu primeiro trabalho de grande fôlego. Como tal, não me poderei pronunciar relativamente a um contexto de obra, mas sim e apenas ao trabalho que este livro em si próprio representa e àquilo que pretendi fazer.
Foi principalmente uma prova perante mim próprio, após alguns anos de tentativas de realização de algo no campo em que me sinto mais identificado, o da expressão artística, de que seria capaz de levar até ao fim um trabalho que saísse da minha imaginação e fantasia, que fosse convincente, consistente e ao mesmo tempo, agradável de se ler. Nessa perspectiva, e como primeira “obra”, sinto que atingi de certa forma, essa meta.
É um início, portanto, ao qual gostaria de dar continuidade, se possível em géneros diversos.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Toda a minha juventude foi passada no meio de livros. Muito mais do que actualmente, nos meus tempos de criança, de adolescente e de juventude, eu lia. O tempo e a disponibilidade de que dispunha então, nada tinham a ver com o presente, em que cada minuto, tem um destino invariavelmente ligado a tarefas, e pouco mais. Li então, de tudo, desde as inevitáveis aventuras dos “cinco” e dos “sete”, da Enid Blyton, passando na adolescência pelo agente secreto francês “Langelot”, algo desconhecido entre nós, da autoria de “Tenente X”, e mais tarde, Júlio Verne, e outros grandes clássicos de aventura: As minas de Salomão, de H.Rider Haggard, o Mundo Perdido, de Sir Conan Doyle, Jurassic Park e Congo, de Michael Crichton, etc etc. Isto, para não referir todas as personagens que a revista “Tintin”, desde os anos 60 até talvez, anos 80, me deu a conhecer: Michel Vaillant, Tenente Blueberry, Red Dust, Bruno Brazil, Ric Hochet, Alix, Cavaleiro Ardent, os fascinantes Blake & Mortimer, o próprio Tintin, e um nunca mais acabar de personagens que me encheram a juventude de heróis e de aventuras. Uma pequena homenagem ainda a quem se recordar, para a revista “Zorro” e o “Cavaleiro Andante”, percursores da “Tintin”. (eram do meu pai, e eu… devorava-as)
E depois, há os filmes… mas seria um rol demasiado extenso.
O resultado: um apaixonado por espaços e locais míticos, por situações misteriosas, e principalmente por paraísos que … já não existem. É um bocado a busca de um imaginário que nos permite – como quando vamos ver um filme do Spielberg, por exemplo -, evadirmo-nos um pouco do stress e da rotina do dia-a-dia.
Assim, dei por mim há cerca de quatro anos atrás, num dia em que tentava redescobrir uma leitura que me transportasse a um desses universos perdidos, com um livro da Isabel Allende na mão: A cidade dos Deuses Selvagens. É um livro destinado a um público mais juvenil, e talvez por isso, não gostei muito e nem cheguei a terminar, mas gostei da ideia do mistério que rodeia a floresta Sul-americana, principalmente de noite. O jaguar na noite. Trouxe-me à lembrança um filme de paul Shrader que me fascinou na altura e ainda hoje o faz: Cat people, com Nastassia Kinski no papel da sensual Irena. Aquela ideia do livro, mais o filme e a respectiva banda sonora, fabulosa, do Giorgio Moroder, agitaram-se dentro de mim, e foi como se um clique se tivesse acendido: “É isso!” – pensei. Era numa história com estes ingredientes, mas diferente, que me apetecia mergulhar . Foi aí que tomei a decisão: Escrever o livro que eu próprio gostaria de ler!
Encontrar um dos últimos mistérios da antiguidade por resolver, o Eldorado, ali citado e juntar-lhe os restantes “ingredientes”, foi o “clique” seguinte.
Depois, foi apenas… deixar fluir. Para meu grande espanto, o romance foi-se escrevendo a si próprio, ganhou vida, e tornou-se num livro “à séria”, passe a expressão.
É claro que tive que ler bastante sobre os costumes Maias e Astecas, sobre lendas, as descobertas e os mistérios relacionados com a América Pré-Colombiana, sobre Hernán Cortés e as suas conquistas, mas o livro centrou-se principalmente na acção central, que é a busca do Eldorado. Não me poderia aventurar em esmiuçar uma coisa tão grande e complexa como é toda a História desses povos, que de resto ainda terá tanto para contar e descobrir, bem possivelmente, apesar de tanto pormenor riquíssimo que infelizmente ficou por contar.
As questões da ambivalência de sentimentos, dos amores desencontrados, do tesouro da cidade perdida, da revolta dos homens-jaguar e dos interesses da Grã-Bretanha na captura dos mesmos, das nossas possíveis até, origens alienígenas, etc, tudo se foi compondo e tudo surgiu com uma certa naturalidade.
E desta forma… nasceu o “Jaguar”!

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Algo um pouco diferente, para descansar. Tem muito menos pesquisa, e é um Thriller. Uma história que envolve um assassino metódico com um passado que em nada levaria a adivinhar a transformação que virá a ocorrer depois. A linha entre o bem quase puro, e o mal destruidor e profundo, que uma vez atravessada…
E depois há as pistas que ele deixa, intencionais… chamamentos… desafios àquele que o persegue e que é ele próprio um alvo, num jogo mortal entre o gato e o rato.
Um tema talvez já um pouco mais batido, mas que tenciono tratar uma vez mais de uma forma diferente, tornando-o assim, num digno sucessor do “Jaguar”.
Nessa altura, e a tornar-se realidade como livro, talvez se possa então começar a falar em “contexto da minha obra”.
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J. Pedro Baltasar
Jaguar
Porto Editora, 18,50€