Isabel Lindim: “Portugal é o país mais vulnerável da Europa no que toca às alterações climáticas”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Portugal, Ano 2071»?
R- Foi um convite da editora, feito pela Joana Stichini Vilela. A ideia começou por ser escrever um livro sobre alterações climáticas, de forma geral, simples e acessível, mas depressa concluímos, em conjunto com o editor, o Francisco Camacho, que seria mais pertinente escrever sobre o caso de Portugal e o impacto que as alterações climáticas vão ter nos próximos anos. Foi assim que comecei a investigar não só a informação global sobre este tema, em grande parte obtido através do IPCC, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, como toda a informação que existe em Portugal, não só em termos de dados das instituições, como o IPMA ou o Instituto Dom Luíz, como nos estudos que existem sobre este tema. Fiquei muito surpreendida com a quantidade de estudos e até de planos de adaptação que existem cá. É um tema que tem sido muito explorado, em parte pelos municípios, que começam a perceber a necessidade de se adaptarem a uma nova realidade, com diferentes ameaças, do calor à subida das águas.
2-Na investigação que fez, o que é que melhor pode caracterizar a situação de Portugal em 2071?
R- É considerado por muitos o país mais vulnerável da Europa no que toca às alterações climáticas. São vários os factores que criam estas vulnerabilidades. No sul e centro, vamos ter o problema do aumento da temperatura e das ondas de calor, no litoral a erosão costeira e as inundações. Isso cria várias questões à sobrevivência das espécies, incluindo a nossa. Não sabemos como nos vamos adaptar a ondas de calor que duram dez dias acima dos 40ºC. Portugal é também um país com uma biodiversidade que está em risco, pelas constantes intervenções humanas em locais que deveriam ser preservados. Isso torna o território e a vida das pessoas mais vulneráveis. Na agricultura, por exemplo, estamos a criar desertos com práticas intensivas. Isso é negativo não só do ponto de vista da vida das populações, que vão ter solos desnutridos no futuro, como na quebra do ciclo da água. A questão dos recursos hídricos tem várias soluções, mas passa essencialmente por pensarmos que a água não é um bem sempre disponível, e que, antes de mais, temos de garantir que a população vai ter acesso à água.
3-De que formas os seus leitores podem contribuir decisivamente para esta batalha das alterações climáticas?
R- Acho que a melhor forma é estarem informados e contribuirem para que a próximas gerações estejam ainda mais, porque serão eles os futuros decisores. Se hoje em dia já pode haver alguma consciência ambiental, no futuro haverá mais, se esta geração tiver noção do que é ecologia e de quais os impactos dos diferentes sectores da economia no meio ambiente. Ecologia é uma disciplina que deveria ser dada desde o 1º ciclo. Não vale a pena estarem só a aprender a separar embalagens para reciclagem, nem fazer figuras com plástico apanhado no mar. É preciso criar empatia com a Natureza, gostar dela e perceber o que a prejudica, quais as actividades humanas que a prejudicam. O facto de estarmos informados também nos dá ferramentas para perceber o que corre mal, e daí fazermos as nossas opções, seja no consumo, seja em lutas a que nos juntamos, como sociedade civil.
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Isabel Lindim
Portugal, Ano 2071
Oficina do Livro 16,90€