Hugo Vieira Costa | 8 Mulheres e 1/2
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «8 Mulheres e 1/2»?
R-Não comecei a ganhar prémios literários. Comecei numa garagem a ensaiar até às tantas, a dar concertos e a ser roubado. A primeira coisa que publiquei foi música e desde essa altura que tenho escrito para música. «8 Mulheres e 1/2», porque é um livro de contos, foi como escrever um disco sem instrumentos. O Eça de Queiroz dizia “no conto, tudo precisa de ser apontado num risco leve e sóbrio”. Nesse sentido, o conto é a canção pop da literatura. No entanto, tal como a música pop, o conto é por vezes olhado com desconfiança pelas editoras, que geralmente só publicam livros de contos de escritores consagrados ou em formato ‘colectânea de novos escritores portugueses’, por exemplo. O Bob Dylan veio demonstrar que não é preciso escrever ao quilo para contar boas histórias. Além disso, hoje em dia, ninguém tem tempo para nada e um escritor que saiba bem o que tem para dizer não precisa roubar muito tempo ao leitor. A nível temático as histórias de «8 Mulheres e 1/2» seguem a minha linha de sempre, que é reagir ao que vejo publicado por aí procurando novos ângulos ou temas ainda mais interessantes. A nível de estilo a receita é também a mesma: escrever de forma inteligente, sem fazer as pessoas sentirem-se estúpidas. Acima de tudo, quero contar boas histórias.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Sempre acreditei nos meus contos e, por tudo o que expliquei acima, aborrecia-me a ideia de ter de escrever um romance de 300 páginas – sobre um Sr. qualquer de nome alemão que passa os dias a matutar sobre os pequenos detalhes da vida – para que as histórias de «8 Mulheres e 1/2» pudessem ver a luz do dia. Por isso, reuni as nove melhores – nove, por causa do Nove Contos do Salinger – e ordenei-as como quem escolhe a ordem das músicas para um disco. As histórias fluíam e a leitura fazia-se sem mudanças abruptas no estilo ou nos temas abordados. No entanto, ainda não tinha um título para apresentar à editora. Mais tarde percebi que, embora as personagens principais sejam quase todas homens, o que une estas histórias são mulheres que, de um modo mais ou menos presente, de um modo mais ou menos consciente, contribuem para as pequenas nove tragédias pessoais contadas no livro. Num certo sentido, o livro não parte de uma ideia. Antes, deu-lhe origem. E isso, quanto a mim, dá mais força ao resultado final. Afinal, as histórias não foram escritas de encomenda para uma ideia, valem por si. A maturação narrativa é que permitiu que a ideia se revelasse. Como um longo improviso jazz que resolve para uma suave melodia.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Se uma história é boa na minha cabeça tento escrevê-la. Neste momento, tenho várias em andamento. Tenho uma sobre um alcoólico que é a melhor história que ainda não escrevi. Já anda comigo desde 2008. Tive muita pena que não pudesse ter entrado no livro porque, na verdade, ainda só existe na minha cabeça, em formato curta-metragem. Depois há as canções. Se me convidassem mais vezes, escrevia mais canções. Há uma ideia para mais um romance, mas não sei se vale a pena.
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Hugo Vieira Costa
8 Mulheres e 1/2
Esfera dos Livros 14€