Guilherme Valadão | Era uma vez em Angola

1- “Era Uma Vez em Angola” é uma obra de estreia: como
espera poder olhar para este livro daqui a 20 anos?
Se eu tivesse mais 20 anos para viver e pudesse voltar a
olhar para este livro a uma tão longa distância no tempo, olhá-lo-ia, por
certo, com o interesse que emprestamos a um momento importante do nosso
passado, não pela narrativa mas pelo conteúdo. Um momento em que fizemos parte
intrínseca das suas páginas e daquilo que elas retratam. E, neste caso, por
maioria de razão porque nele está o relato de uma parte da minha vida que eu
não quero esquecer.
2- Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
Na origem deste livro esteve sempre a ideia – ou, quem sabe,
se a esperança! – de que as minhas netas, inglesas de nascimento, educadas no
seio de uma família inglesa, e nativas dessa língua, pudessem um dia conhecer
melhor a minha vida e terem de mim, senão as memórias de uma infância feliz na
minha companhia, pelo menos a certeza de que foi um homem bom que à mãe delas
deu a mais bela e mais cuidada formação como mulher e ser humano admirável,
amável e consciente.
3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
O meu futuro já começou há muito tempo. Mas o que escrevo em
prosa é sobre o meu passado. Um passado rico, de experiências muito diversas,
de uma vida cheia e relativamente longa. E também deste presente um pouco
amargo, escrevo eu. Escrevo sobre tudo isso na tentativa de encontrar uma ponte
brilhante entre o passado e o presente. è mais uma interpretação da linguagem
das sombras que o sol ameaça com a sua luz. Uma tradução cósmica sem
dicionários. Sobre o futuro tenho a poesia – aquela que se sente e se confia às
palavras soltas. Entre umas coisas e outras existe sempre um projecto íntimo
que não se revela a olhares estranhos.
E, no entanto, o que gostaria de mostrar, depois deste
primeiro livro, seria um segundo e, talvez, um terceiro, completando o ciclo.
Tudo depende do sucesso deste.
Tenho projectos, claro! No início, alguns, a meio, outros e
nos epílogos, outros tantos. Memórias da guerra, da vida e da morte, de gente
que conheci e deixou marca pelos caminhos que percorreu. Dos meus amigos
caninos, seres de outro mundo que passaram pela minha vida. Admiráveis!
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Guilherme Valadão 
Era uma vez em Angola
Bertrand, 15,50€