Gabriel Mithá Ribeiro | Novo Manual de Investigação
1-Durante muitos anos, «Como se faz uma Tese» de Umberto Eco
era considerada a Bíblia dos investigadores: ambiciona que o seu livro
substitua esse clássico?
era considerada a Bíblia dos investigadores: ambiciona que o seu livro
substitua esse clássico?
R- O livro partiu da certeza de clássicos como o de Umberto
Eco ou o de Raymond Quivy e Luc van Campenhoudt, «Manual de investigação em
ciências sociais», terem de ser renovados por não resistirem eternamente às
marcas do contexto histórico em que foram produzidos, a época da Guerra Fria.
Partiu não menos da certeza da necessidade de renovação do trabalho académico
não ser mais protelável, se é que as universidades não têm de correr contra o
tempo. Acrescento ainda a convicção da solidez do conteúdo do «Novo manual de
investigação». Todavia, não é plausível equiparar o impacto de um neófito ao de
clássicos consagrados. Neste caso, entre outras variáveis, porque a renovação
de que carecemos depende da vontade das universidades em se reinventarem por si
mesmas, o que faz supor que, sem o suporte dessa ambição institucional
voluntária, o «Novo manual de investigação» arrisca-se a morrer na praia.
Eco ou o de Raymond Quivy e Luc van Campenhoudt, «Manual de investigação em
ciências sociais», terem de ser renovados por não resistirem eternamente às
marcas do contexto histórico em que foram produzidos, a época da Guerra Fria.
Partiu não menos da certeza da necessidade de renovação do trabalho académico
não ser mais protelável, se é que as universidades não têm de correr contra o
tempo. Acrescento ainda a convicção da solidez do conteúdo do «Novo manual de
investigação». Todavia, não é plausível equiparar o impacto de um neófito ao de
clássicos consagrados. Neste caso, entre outras variáveis, porque a renovação
de que carecemos depende da vontade das universidades em se reinventarem por si
mesmas, o que faz supor que, sem o suporte dessa ambição institucional
voluntária, o «Novo manual de investigação» arrisca-se a morrer na praia.
2- No século XXI, o que está a mudar na investigação e nas
suas metodologias?
suas metodologias?
R- No decurso do tempo, a investigação universitária e a
realidade não são estáticas. O desafio cíclico passa por perceber se os
sentidos das transformações de uma e de outra tendem para a congruência.
Concluo – e estou longe de estar só – que o rumo que se vai trilhando aponta em
sentido inverso, no das incongruências e do consequente agravamento de
disfuncionalidades cujo sintoma reside na crescente insatisfação com os
conhecimentos académicos elaborados sobre as sociedades. Trata-se de um ponto
de chegada de um longo ciclo que remeteu das periferias para o âmago da
investigação universitária referentes como a interdisciplinaridade, a
complexidade da condição humana que se reflete nas características da vida
social, as tensões entre construções analíticas e posicionamentos morais, a
sobreposição disfuncional entre o sujeito que conhece e o objeto de estudo,
entre outros desafios que vão rolando nos meios universitários com efeitos
equiparáveis aos de uma bola de neve. Foram transformações densas com impactos
profundos que geraram inúmeras vantagens nos estudos universitários, porém
agregadas a inúmeras desvantagens e a novos desafios entregues a si mesmos. É
por isso que o panorama atual impõe um regresso reforçado e incisivo à
epistemologia. É ela que garante a autonomia do conhecimento académico
(analítico ou científico) na sua inevitável relação com o conhecimento de senso
comum (ou «da rua»). Se os dois têm valor, o primeiro será tanto mais
significativo quanto mais for capaz de se reger por pressupostos e critérios
que o distingam do último sem ambiguidades. Todavia, a comunidade académica
sobrevive hoje bastante fragilizada nesse domínio que, para ela, é essencial.
Para além de ser um livro prático, é por essa razão que o «Novo manual de
investigação» procura apresentar-se também como uma proposta de renovação do
contrato de confiança entre universidades e sociedades que as legitimam por via
dos conhecimentos que as primeiras produzem sobre as últimas.
realidade não são estáticas. O desafio cíclico passa por perceber se os
sentidos das transformações de uma e de outra tendem para a congruência.
Concluo – e estou longe de estar só – que o rumo que se vai trilhando aponta em
sentido inverso, no das incongruências e do consequente agravamento de
disfuncionalidades cujo sintoma reside na crescente insatisfação com os
conhecimentos académicos elaborados sobre as sociedades. Trata-se de um ponto
de chegada de um longo ciclo que remeteu das periferias para o âmago da
investigação universitária referentes como a interdisciplinaridade, a
complexidade da condição humana que se reflete nas características da vida
social, as tensões entre construções analíticas e posicionamentos morais, a
sobreposição disfuncional entre o sujeito que conhece e o objeto de estudo,
entre outros desafios que vão rolando nos meios universitários com efeitos
equiparáveis aos de uma bola de neve. Foram transformações densas com impactos
profundos que geraram inúmeras vantagens nos estudos universitários, porém
agregadas a inúmeras desvantagens e a novos desafios entregues a si mesmos. É
por isso que o panorama atual impõe um regresso reforçado e incisivo à
epistemologia. É ela que garante a autonomia do conhecimento académico
(analítico ou científico) na sua inevitável relação com o conhecimento de senso
comum (ou «da rua»). Se os dois têm valor, o primeiro será tanto mais
significativo quanto mais for capaz de se reger por pressupostos e critérios
que o distingam do último sem ambiguidades. Todavia, a comunidade académica
sobrevive hoje bastante fragilizada nesse domínio que, para ela, é essencial.
Para além de ser um livro prático, é por essa razão que o «Novo manual de
investigação» procura apresentar-se também como uma proposta de renovação do
contrato de confiança entre universidades e sociedades que as legitimam por via
dos conhecimentos que as primeiras produzem sobre as últimas.
3- Quais as principais inovações que propõe no seu livro?
R- Em si, a estrutura do livro é inovadora o que favorece o
sentido inovador dos conteúdos. O capítulo I propõe de forma tão objetiva
quanto possível cinco princípios epistemológicos que os que estudam as
sociedades devem observar (historiadores, sociólogos, juristas, economistas,
linguistas, antropólogos, psicólogos sociais, geógrafos, filósofos, entre
outros). Por outro lado, a preparação específica dos universitários para a
investigação tende a focar-se em orientações metodológicas (métodos e
técnicas), o que significa a marginalização ou, na melhor das hipóteses, a
abordagem das orientações teóricas e das orientações empíricas enquanto
domínios de uma outra natureza ou dimensão. O «Novo manual de investigação»
altera essa tradição por pressupor insustentável a produção de conhecimentos
com rigor, qualidade, originalidade e sustentabilidade quando as três
componentes referidas estão desfiliadas entre si. A teoria (capítulo II), a
metodologia (capítulo III) e a empiria (capítulo IV e último) são, por isso,
tratadas como componentes indissociáveis de um puzzle que corresponde à
estrutura tripartida de base de qualquer dissertação ou tese académica. Tal
consciência deve ser instigada desde o início dos cursos universitários para
passar a sedimentar, com maior eficácia, a autonomia de cada estudante na
relação individual que estabelece com o conhecimento. Nesse sentido, o livro
assume que, neste século XXI, o ciclo natural da formação universitária não
termina na licenciatura, antes no mestrado e na tendência para tornar menos
excecional o doutoramento. De resto, o livro vai sempre clarificando ou
redefinindo questões-chave da investigação universitária como, por exemplo, as
relações entre a razão e o poder (para além da fé) ou os pressupostos que
garantem a cientificidade de um estudo de caso.
sentido inovador dos conteúdos. O capítulo I propõe de forma tão objetiva
quanto possível cinco princípios epistemológicos que os que estudam as
sociedades devem observar (historiadores, sociólogos, juristas, economistas,
linguistas, antropólogos, psicólogos sociais, geógrafos, filósofos, entre
outros). Por outro lado, a preparação específica dos universitários para a
investigação tende a focar-se em orientações metodológicas (métodos e
técnicas), o que significa a marginalização ou, na melhor das hipóteses, a
abordagem das orientações teóricas e das orientações empíricas enquanto
domínios de uma outra natureza ou dimensão. O «Novo manual de investigação»
altera essa tradição por pressupor insustentável a produção de conhecimentos
com rigor, qualidade, originalidade e sustentabilidade quando as três
componentes referidas estão desfiliadas entre si. A teoria (capítulo II), a
metodologia (capítulo III) e a empiria (capítulo IV e último) são, por isso,
tratadas como componentes indissociáveis de um puzzle que corresponde à
estrutura tripartida de base de qualquer dissertação ou tese académica. Tal
consciência deve ser instigada desde o início dos cursos universitários para
passar a sedimentar, com maior eficácia, a autonomia de cada estudante na
relação individual que estabelece com o conhecimento. Nesse sentido, o livro
assume que, neste século XXI, o ciclo natural da formação universitária não
termina na licenciatura, antes no mestrado e na tendência para tornar menos
excecional o doutoramento. De resto, o livro vai sempre clarificando ou
redefinindo questões-chave da investigação universitária como, por exemplo, as
relações entre a razão e o poder (para além da fé) ou os pressupostos que
garantem a cientificidade de um estudo de caso.
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Gabriel Mithá Ribeiro
Novo Manual de Investigação
Contraponto 15,50€