Frei Fernando Ventura: “É mais do que urgente ter a coragem de ir contra a corrente”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste vosso livro «Todos Nós Somos Sendo»?
R-Este livro, é o ponto de chegada –, e quem sabe um ponto de partida – de uma “trilogia” que nos fez avançar a partir da constatação da urgência da passagem do “Eu” ao “Nós” (Do Eu Solitário ao Nós Solidário), passando pela consciência de que a salvação da História passa pela capacidade de gerar relações redimidas (Somos Pobres mas Somos Muitos), como condição do processo de “hominização” ao estilo Teillardiano, nesta “espiral ascensional de complexidade consciência” que se consolida, ancorada na ineludível necessidade de sermos “sendo”; sendo promotores de redes de relações que fazem do outro parceiro de relação e co-caminhante, pelos caminhos da vida e da História, para que a vida tenha sentido e a História possa ganhar contornos de eternidade (Todos Nós somos Sendo).

2-De que formas a mensagem do Papa Francisco inspirou as conversas que podemos ler no livro?
R-O Papa Francisco, a sua mensagem e o seu modo de a transformar em gestos concretos de desafio para a construção da História e da Igreja, sempre esteve presente, desde o nosso primeiro livro (Do Eu Solitário ao Nós Solidário), escrito ainda antes da sua eleição. Ao ler o livro “pós-facto” foi com algum “orgulho” que vimos ideias e mesmo expressões que usámos no livro, agora na boca do Papa. Esta trilogia, acompanha o período de serviço do Papa Francisco, que fomos seguindo muito de perto e que nos atrevemos a “reescrever” ao nosso jeito. Sem falsas modéstias, estamos a fazer a nossa parte na difusão de um novo jeito de ser e fazer história e vida, ancorado na universalidade da mensagem do Evangelho; um mundo que espera da Igreja e de cada um dos homens e mulheres de boa vontade, a coragem de agarrar o futuro no presente, para que o presente tenha sentido e para que o futuro possa acontecer…

3-Luís Osório, no prefácio, refere (e bem) que é um livro «carregado de esperança». Os tempos actuais são, contudo, tempos de incerteza, dificuldades, problemas, guerra, crise, fome, miséria. Ainda é possível ter esperança?
R-É justamente porque os tempos actuais são exatamente assim, que é mais do que urgente ter a coragem de ir contra a corrente. O ambiente que vivemos, é cada vez mais de confusão, pessoal e comunitária, ou seja, um ambiente onde falta a esperança, a capacidade de espreitar para lá do muro / barreira que se impõe inexorável, diante dos nossos olhos. Ir contra a corrente é ir ao encontro da tarefa da construção da esperança que não pode ser colocada no “colo” de um qualquer messias de pacotilha, dos muitos que cada dia gritam “é por aqui”… Ao prefácio do nosso querido amigo Luís Osório, atrevo-me a acrescentar o grito de José Régio… “…não vou por aí…”. A esperança do mundo não está nas mãos dos messias que gritam… está no coração e nas mãos do silêncio dos pobres, dos que sabem ser pobres… e ser “pobre” não é “não ter”, isso é miséria… o pobre é o que partilha, por isso a esperança mora aqui, no coração da História, que é o coração dos pobres.
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Frei Fernando Ventura/Joaquim Franco
Todos Nós Somos Sendo
Contraponto  15,50€

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