Francisco Louçã: “Sobre a sociedade do medo”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «O Futuro já não é o que nunca foi. Uma Teoria do Presente»?
R- O livro resulta da reflexão sobre a sociedade do medo, a que descobrimos na pandemia. A partir daí, pergunta-se sobre as novas formas de política que têm vindo a crescer: o poder dos bufões, talvez melhor do que todos, representados por Trump e Bolsonaro, a necropolítica – a política assente na destruição e nas culturas de ódio, no xenofobia, na homofobia, na perseguição aos direitos das mulheres – ou o supremacismo racista e, a partir daí, pergunto-me como foi que uma tecnologia que prometia igualdade, direito à palavra, alargamento do espaço público, como as redes sociais, se transformaram numa maquinaria de exclusão e de mentira.
2-Sociedade do medo, efeitos perversos das «redes sociais», fake news, aumento das desigualdades, consolidação de formas totalitárias de governo: que tempo presente é este?
R- É o melhor dos tempos e o pior dos tempos, para parafrasear a frase tão célebre da abertura de um livro de Dickens. E foi sempre assim, acrescenta ele, sempre nos disseram que o progresso era inexorável e que iluminaria a nossa vida. No entanto, são fantasmas do passado que se juntam no presente, através de bufões cuja vitória era implausível ainda há pouco tempo atrás, chegando ao negacionismo da pandemia, às aflições da democracia, às ameaças militarizadas. É certo que Trump foi depois derrotado, no ano passado, mas ainda anda por aí, e o ascenso das extremas-direitas comprova como a necropolítica veio para ficar. Que as redes sociais, em particular quando Zuckerberg favorecia Trump, tenham estimulado estes discursos de ódio, e que procurem experimentar mecanismos de intoxicação mercantil e de vigilância social, parece inscrito neste imenso poder de gerar e controlar o nevoeiro comunicacional. O perigo dessa tensão é o tema fundamental do livro.
3-Num contexto global duro, difícil e incerto, que caminhos podemos/devemos percorrer para que Portugal possa ter um outro futuro?
R- O futuro é o que quisermos, o tempo é a bifurcação por onde caminhamos.
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Francisco Louçã
O Futuro já não é o que nunca foi. Uma Teoria do Presente
Bertrand 17,70€
Francisco Louçã na Novos Livros | Entrevistas