Fernando Sobral | Ela Cantava Fados

1.O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Ela Cantava Fados»?
Um policial permite sermos nómadas na sociedade actual. Porque é um estilo que não vive preso a fronteiras, nem a dogmas. O policial não rejeita o dia e a noite, as nuvens e o céu, o branco e o negro. Tenta ver através deles. É por isso que é o género mais livre que existe. Costumo escrever sobre política, economia ou cultura. O policial permite escrever sobre todas essas coisas dando-lhe ainda um valor acrescentado: o mistério e a magia. Foi por isso que, tal como tinha feito em “L.Ville”, “Ela Cantava Fados”, é uma janela para o mundo que nos cerca.
2.Qual a ideia que esteve na origem do livro?
A ideia principal é pensar qual é o valor das coisas, especialmente do amor e da alma, numa sociedade de consumo onde tudo está à venda. Acho que uma fadista, dona de uma voz tão misteriosa como a sua vida, poderia levar-nos a pensar um pouco melhor sobre a sociedade portuguesa actual enleada em notas de euro. Vivemos em crise económica há demasiado tempo, entre dívidas e dúvidas. Saberemos lutar contra esse destino? Nesse aspecto o Fado pode ser uma luz na escuridão. O Fado não é só lamento. É vingança. E é isso que o detective Manuel da Rosa acaba por perceber quando tenta descobrir quem assassinou uma fadista. Ou seja, quem cantava sobre o nosso passado e o nosso futuro.
3.Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
Estou, no âmbito de um trabalho mais vasto feito no âmbito do “Jornal de Negócios”, a acabar um livro sobre o poder económico nacional. Entre mãos estão ainda um projecto sobre um pedaço da década de 1980 em Portugal e outro sobre a sociedade actual. A ficção regressará a seguir.
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Fernando Sobral
Ela Cantava Fados
Quetzal, 16,50€