Félix Romeo | Discothèque
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Discothèque»?
R- É o livro que escrevi com maior liberdade. Talvez porque escrevi a maior parte do romance quando estava na prisão, cumprindo pena por insubmissão (recusa de cumprir o serviço militar). Ter os meus movimentos completamente limitados fazia com que a minha escrita aspirasse a ser totalmente livre. Certamente, não voltarei a escrever de uma maneira tão desinibida, mas foi uma experiência fantástica meter-me na pele de tantos personagens, tão diferentes de mim, com vidas especiais.
R- A origem do livro está na cadeia. Acabava de publicar o meu primeiro romance, Dibujos Animados (Anagrama), muito pouco antes de entrar (a pena era de 2 anos, 4 meses e 1 dia, dos quais cumpri um ano e meio). Algumas das histórias que me contaram os presos, porque adorava escutar as suas histórias, estão muito claramente na base do livro. Concretamente, a história da guerra de Ifni (uma guerra de descolonização em África que foi silenciada pela ditadura de Franco) aproveita a experiência de um dos meus companheiros que participou nela. Outras histórias, relacionadas com prostituição ou com crimes, também recriam algumas dessas histórias ouvidas na cadeia. Discotheque tem, seguramente, pela sua origem, um carácter “oral”… e essa tradição oral tem um peso muito grande no romance.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Há uns meses publiquei o que considero o meu melhor livro, Amarillo, no qual falo do suicídio do meu amigo Chusé Izuel, quando vivíamos juntos num apartamento de Barcelona. Agora, estou com outra história de morte violenta… e que também tem a ver com a cadeia: o assassinato de uma mulher estrangulada por um dos meus companheiros de cela, Dulong. O livro é uma indagação sobre o homicídio, sobre a linguagem judicial, sobre o silêncio e sobre a impunidade.
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Félis Romeo
Discothèque
Minotauro, 18€