Ernesto Rodrigues: “Para lá de lágrimas, sorrisos e pequenos enigmas, a costumada ironia”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro “Cruzeiro Literário”?
R-Reunião de quatro contos e duas novelas – uma das quais dá título ao livro –, “Cruzeiro Literário” vem na sequência de nove romances (1989-2024), quando, antes daquela data, já publicara Várias Bulhas e Algumas Vítimas (1980), novela política em universo rural transmontano reeditada em A Flor e a Morte (1983). Este volume compunha-se de narrativas escritas desde 1972, influídas por um olhar fílmico, sincopado, cosmopolita, e definindo, já, o quadro político e social do Leste europeu, que desenvolveria em alguns romances, sobretudo, Liliputine (2023). Há 50 anos praticante do microconto – de que dei parcas amostras em Histórias para Acordar (1996) de destinação infantil –, ficavam por editar três núcleos: um, associado a comportamentos psicopáticos; outro, ligado a questões do Poder, de que é exemplo o Teatro (2021) e um romance ainda fresco, O Bom Governo(2024); enfim, o apartado agora saído, em que melhor conjugo uma vivência de quatro meios: literário, editorial, universitário e tipográfico. Para lá de lágrimas, sorrisos e pequenos enigmas, a costumada ironia vira látego devastador em relação a figurões e vaidades insuportáveis.
2-Qual a ideia que esteve na origem desta colectânea?
R-Publicando, em 2022-2024, seis pesados volumes de cariz universitário e dois romances, dava-me por satisfeito se só editasse o conto “Os Lusíadas” (2024), ou as diligências de Camões para imprimir o Poema. Ora, Vamberto Freitas quis incluir-me numa colecção: já aposentado da Universidade e conhecendo por dentro os meios literário e editorial, considerei, nas novelas, divertir-me com experiências passadas, sem esquecer tratar-se de muita ficção. Os contos, incluindo aquele Camões, têm outra seriedade, mesmo quando entra um Junqueiro irónico, carteando-se com Ramalho Ortigão. Assim, a par de uma comunidade (também instrutiva) de temas artístico-literários, interessava-me conduzir o leitor pela mão do riso e da benevolência.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Escrevo a última de 153 crónicas (1973-2024). Por força de Camões e do bicentenário do nascimento de Camilo em 2025, redijo “Imagens de Camões no século XIX” e “Camões e Camilo”, a incluir em futuros Estudos de Literatura Portuguesa.
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Ernesto Rodrigues
Cruzeiro Literário
Letras Lavadas 14€