Entre despojos de guerra e histórias do avô
Téa Obreht foi a vencedora do Prémio Orange do ano que passou pelo seu livro A Mulher do Tigre. Nascida em 1985 na ex-Jugoslávia (actualmente vive nos Estados-Unidos), é precisamente a sua origem que a torna diferente e influencia a sua obra, tornando o seu livro fascinante.
Para nós, portugueses, este é um território, uma realidade e uma história com que habitualmente não nos relacionamos e nos é desconhecida – e por isso, também, é tão cativante a abordagem que a autora faz à guerra dos Balcãs e à II Guerra Mundial, bem como a forma hábil como recorre ao passado e presente das personagens.
“Mas, agora que soava a última hora do país, tornou-se tão evidente para ele como para mim que o cessar-fogo proporcionara uma ilusão de normalidade, mas nunca a paz. Quando uma luta tem um propósito – libertarmo-nos de qualquer coisa, interferir em favor de um inocente –, há uma esperança de finalidade. Mas, quando uma luta se destina a desemaranhar – quando tem a ver com o nosso nome, com os lugares nos quais o nosso sangue está ancorado, com a ligação do nosso nome a uma paisagem ou evento –, então não há nada além de ódio, e a longa e lenta progressão de pessoas que são alimentadas com ele, meticulosamente, pelos que a precederam. Então a luta é interminável e chega em vagas, mas conserva sempre a sua capacidade de surpreender aqueles que alimentam esperanças contra ela.”
Mais do que as descrições da guerra e a sua influência na vida das personagens, são as histórias que envolvem o tigre e o avô de Natalia que prendem totalmente a atenção do leitor, pois são absolutamente deliciosas e completamente originais. O homem sem morte, as visitas ao jardim zoológico, as histórias das pessoas de Galina, a mulher do tigre e O Livro da Selva são algumas das mais simpáticas e bem conseguidas.
É através de Natalia, uma jovem médica destacada numa missão solidária, que somos levados a conhecer as magníficas histórias do seu avô, contadas sob a forma de recordação após a descoberta da morte deste em circunstâncias pouco claras.
Com apenas com 26 anos, Téa Obreht destaca-se como uma contadora de histórias extraordinária, tendo sido considerada pelo The New Yorker uma das vinte melhores escritoras norte-americanas com menos de 40 anos.
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Téa Obreht
A Mulher do Tigre
Editorial Presença, 16,90€
Para nós, portugueses, este é um território, uma realidade e uma história com que habitualmente não nos relacionamos e nos é desconhecida – e por isso, também, é tão cativante a abordagem que a autora faz à guerra dos Balcãs e à II Guerra Mundial, bem como a forma hábil como recorre ao passado e presente das personagens.
“Mas, agora que soava a última hora do país, tornou-se tão evidente para ele como para mim que o cessar-fogo proporcionara uma ilusão de normalidade, mas nunca a paz. Quando uma luta tem um propósito – libertarmo-nos de qualquer coisa, interferir em favor de um inocente –, há uma esperança de finalidade. Mas, quando uma luta se destina a desemaranhar – quando tem a ver com o nosso nome, com os lugares nos quais o nosso sangue está ancorado, com a ligação do nosso nome a uma paisagem ou evento –, então não há nada além de ódio, e a longa e lenta progressão de pessoas que são alimentadas com ele, meticulosamente, pelos que a precederam. Então a luta é interminável e chega em vagas, mas conserva sempre a sua capacidade de surpreender aqueles que alimentam esperanças contra ela.”
Mais do que as descrições da guerra e a sua influência na vida das personagens, são as histórias que envolvem o tigre e o avô de Natalia que prendem totalmente a atenção do leitor, pois são absolutamente deliciosas e completamente originais. O homem sem morte, as visitas ao jardim zoológico, as histórias das pessoas de Galina, a mulher do tigre e O Livro da Selva são algumas das mais simpáticas e bem conseguidas.
É através de Natalia, uma jovem médica destacada numa missão solidária, que somos levados a conhecer as magníficas histórias do seu avô, contadas sob a forma de recordação após a descoberta da morte deste em circunstâncias pouco claras.
Com apenas com 26 anos, Téa Obreht destaca-se como uma contadora de histórias extraordinária, tendo sido considerada pelo The New Yorker uma das vinte melhores escritoras norte-americanas com menos de 40 anos.
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Téa Obreht
A Mulher do Tigre
Editorial Presença, 16,90€