Entre criminosos italianos e japoneses

O norte-americano Robin Cook é considerado o fundador do género literário “thriller médico” e o seu melhor autor – e basta ler um dos seus muitos livros para perceber porquê.
Aos conhecimentos da sua formação académica (é médico oftalmologista, doutorado em Harvard), Cook junta um verdadeiro domínio da arte do suspense policial, criando enredos que prendem o leitor até ao final. A sua mais recente obra publicada em Portugal (a trigésima editada pela Europa-América), “Cura”, não desilude os muitos fãs do autor.
Cook traz novamente ao convívio dos leitores o já conhecido casal Stapleton, médicos legistas em Nova Iorque. Quem segue as obras do autor publicadas em Portugal recorda-se com certeza do drama por que passou o casal, ao ser diagnosticado ao seu filho bebé um cancro de grande agressividade (neuroblastoma) e na maioria dos casos fatal. Mas, contra todas as expectativas e contradizendo estatísticas, ao fim de um ano e meio o cancro está em remissão total e Laurie Montgomery-Stapleton pode voltar ao trabalho.
Seguindo as tendências atuais, o autor explora um campo cada vez mais explosivo onde se misturam medicina, ciência e economia. O resultado é uma guerra comercial entre empresas de biotecnologia, em torno da recém-descoberta virtualidade das células estaminais induzidas pluripotentes. E no mundo globalizado em que vivemos, a rivalidade comercial extravasa fronteiras, envolve governos e proporciona as mais estranhas alianças – não só entre empresas como entre criminosos.
É assim que a união da máfia italiana sediada nos Estados Unidos com a sua congénere japonesa, a yakuza, até agora limitada ao tráfico de droga, se estende ao negócio da biotecnologia, dando suporte a uma indústria que se espera venha a ter lucros de triliões de dólares. Ao branqueamento de capitais e roubo de descobertas científicas e patentes, junta-se a necessidade de fazer desaparecer quem se atravessa no caminho do livre curso dos negócios ilícitos escondidos sob a fachada de empresas legais.
Aplacadas as polícias sob a aparente normalidade nas ruas proporcionada pelas tréguas tácitas entre fações mafiosas rivais, o negócio continuaria a prosperar não fosse a suspeita de Laurie Montgomery-Stapleton de que o cadáver de um japonês que chega à sua mesa de autópsias não teve morte natural.
Regressada da longa licença de parto, com sentimentos de culpabilização por deixar o filho e insegura quanto à sua capacidade profissional após tão prolongada ausência, Laurie não se deixa iludir pelos sinais de morte natural de um homem novo e sem doenças visíveis.
Contrariando a opinião dos colegas e do próprio marido, a médica legista lança-se numa cruzada para descobrir a causa de morte do cadáver não identificado encontrado numa plataforma de metropolitano. Laurie extravasa o âmbito profissional e desenvolve mesmo algumas das tarefas que à partida estariam destinadas à polícia. A sua teimosia dá frutos – e provas: a morte não foi acidental.
Mas o que a médica nunca poderia imaginar é que estava a desafiar interesses demasiado poderosos… e que o preço a pagar poderá ser o bem-estar do seu bebé.
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Robin Cook
Cura
Publicações Europa-América, 19,75€