Ensaios: argumentos, ideias, perspectivas
A edição de ensaios tem aumentado no panorama editorial português. A editora Guerra e Paz tem dado um contributo importante: primeiro com a colecção Livros Vermelhos e, mais recentemente, com uma nova aposta.
Em O Mundo como Ele É, o autor Ulf Danielson envolve o leitor: “Tenho um segredo para contar: os seres vivos não são máquinas, não existe matemática fora das nossas cabeças, o mundo existe e não é uma simulação, os computadores não conseguem pensar, a nossa consciência não é uma ilusão e a nossa vontade não é livre”. Numa reflexão em que cruza filosofia e ciência, é um livro que nos interroga e nos desafia. Sem respostas fechadas nem verdades absolutas.
Num outro plano, Fernando Trás de Bes escreveu Uma História Diferente do Mundo para analisar a evolução da humanidade e das civilizações tendo por base uma ideia simples: “para compreender a forma como funcionamos e o nosso devir enquanto espécie, é necessário entender o comportamento humano”. Por isso, o autor afirma que escreveu com o objectivo de “percorrer a história das nossas emoções, condutas e instintos, das suas contradições e paradoxos, das suas loucuras e razões, tendo como fio condutor as nossas formas de organização e funcionamento”.
A História do Riso é um ensaio de Abílio Almeida sobre um tema ainda não muito estudado mas que está presente na nossa história há séculos. Será, talvez pela sua (muito) aparente ligeireza, um assunto que associamos a Ricardo Araújo Pereira, Woody Allen ou Herman José. Mas, o autor mostra-nos exactamente o contrário ao convocar para o debate autores como Nietzche ou Platão. Portanto, uma forma inovadora de olhar para o riso e as diversas formas como foi pensado e usado desde a antiguidade.
Finalmente, em torno do amplo tema do ambiente e das alterações climáticas que hoje nos preocupam: A Ciência do Clima aposta numa pertinente interrogação sobre algumas verdades que temos por adquiridas. Steven E. Koonin não é um negacionista mas parte de um outro ponto de vista: tem dúvidas e alerta para factos menos discutidos. Por exemplo: “tanto a literatura científica quanto os relatórios governamentais que resumem e avaliam o estado da ciência do clima dizem claramente que as ondas de calor nos Estados Unidos da América (EUA) não são mais comuns agora do que eram em 1900 e que as temperaturas mais elevadas registadas nos EUA não subiram nos últimos 50 anos”. Por isso, confessa Koonin, “quando digo isto às pessoas, a maioria mostra-se incrédula”, “alguma ficam de boca aberta” e outras “tornam-se francamente hostis”.
A importância destes quatro livros é, em síntese, esta: contribuem não para ficarmos de boca aberta mas para reflectirmos e aprofundarmos o nosso conhecimento sobre temas muito diversos. Mais do que criar ou consolidar certezas, são obras que nos estimulam e desafiam. E é isso mesmo que um bom ensaio deve fazer.