Enquanto o mundo se preparava para a guerra
Elizabeth Edmondson não é uma desconhecida dos leitores portugueses. Pela mão da Asa estão publicadas algumas das suas obras emblemáticas, a que o público não foi indiferente: “Uma Villa em Itália”, “A Casa do Lago” ou “Uma Mansão na Bruma” são alguns exemplos.
A autora de origem chilena mas formação inglesa (estudou em Oxford) regressou recentemente ao convívio dos leitores nacionais com um dos seus romances mais conseguidos – “Uma Menina de Boas Famílias”. Quem leu os outros romances conhece já o seu estilo e não ficará desiludido com esta obra. Edmondson continua igual a si própria, imprimindo um ritmo vigoroso a um discurso narrativo harmonioso.
Como “A Casa do Lago”, também este livro é um interessante fresco de época, desta vez uma época intensa e contraditória que desembocou num dos momentos mais negros do século XX: a meia década anterior à II Guerra Mundial, quando a Europa se debatia com uma forte crise social, espartilhada entre uma classe trabalhadora fortemente atingida pelo desemprego e a miséria e uma classe alta em acentuada decadência mas mantendo o mesmo estilo de vida, entre festas e caçadas, qual orquestra do Titanic. Um clima propício à ascensão de perigosos movimentos políticos e ideológicos que precipitaram o mundo no horror da guerra, em que todos espiam e conspiram.
A trama centra-se em três jovens que vão estudar para Oxford – quando até na civilizada Inglaterra a educação superior das raparigas era ainda uma conquista difícil, mesmo entre as classes altas – e nas profundas alterações que as suas vidas sofrem face a um mundo em mudança acelerada.
A universidade fervilha de ideias e discussões, grupos e interesses, algum estudo e muitas festas. Fora do campus, a vida não pára e as desigualdades grassam. As três jovens reagem de maneira diferente ao que as rodeia. E apesar da forte amizade que as une, cedo cada uma é levada a assumir as suas opções: Verity, filha de um pastor anglicano e proveniente de uma família austera e pouco afetiva, rende-se à causa socialista e vê-se recrutada pelos russos; Claudia, aristocrata um tanto fútil, torna-se uma fervorosa adepta do nazismo; e Lally, filha se um senador norte-americano que atravessa o Atlântico para estudar em Inglaterra, tenta manter a cabeça no lugar, numa discreta distância da política que tudo envolve.
“Uma menina de boas famílias” proporciona uma leitura interessante, sobretudo nesta época estival.
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Elizabeth Edmondson
Uma Menina de Boas Famílias
Asa, 15,90€