… E Poirot regressa

O mínimo que se pode dizer de Sophie
Hannah é que é corajosa. Escritora de créditos firmados na poesia e autora de
romances policiais que são bestsellers, não receou “atravessar-se” no caminho da
rainha do crime e do seu mais famoso personagem.
Com Os Crimes do Monograma, Sophie Hannah assume a difícil tarefa de “ressuscitar”
Hercule Poirot, o inconfundível detetive belga criado por Agatha Christie, personagem
que acompanhou a escritora ao longo da sua longa carreira literária.
Poirot, com as suas “celulazinhas cinzentas”
capazes de solucionar qualquer crime, por mais intrincado que seja, é conhecido
e amado por milhões de pessoas de várias gerações que leram as suas aventuras pela
mãe da sua brilhante criadora – Agatha Christie vendeu milhões de livros e as
suas obras continuam a ser procuradas por novos leitores, apesar da sua morte
em 1976 – ou viram os filmes, na adaptação cinematográfica dos romances.
Não é estranhar, pois, que à natural curiosidade
se alie a desconfiança dos muitos e muitos fãs de Poirot face à notícia do seu
regresso pela mão de uma nova autora. Sophie Hannah, que teve o apoio da
família de Agatha Christie neste empreendimento, não terá certamente descurado essa
eventualidade, o que explica, eventualmente, o “refúgio” num narrador, o jovem
detetive da Scotland Yard, Edward Catchpool.
O enredo de Os Crimes do Monograma não foge ao que os leitores de Agatha
Christie se habituaram e, diga-se em abono da verdade, Sophie Hannah não
desilude.
Poirot encontra-se em Londres de
férias, a dar descanso às suas “celulazinhas cinzentas”. Mas o repouso é de
pouco tempo. Desde que Jennie entra de rompante no café onde se encontra o
detetive belga e lhe confessa saber que vai morrer mas pedindo-lhe que não
resolva o crime, os acontecimentos sucedem-se: na mesma noite três assassínios são
cometidos num hotel de luxo, tendo as vítimas um botão de punho enfiado na
boca, todos com o mesmo monograma de três iniciais.
Hercule Poirot não deixa os seus
créditos por mãos alheias e ao longo de cerca 300 páginas desenvolve o seu
trabalho dedutivo até solucionar o mistério.
Os leitores acompanharão com
entusiasmo o raciocínio de Poirot, sem parar até ao final. Mas ao terminar o
livro fica um certo travo amargo: a história é boa, mas não é de Agatha
Christie.
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Sophie
Hannah
Os Crimes do Monograma
Edições
Asa, 13,90€