Dora Gago: “A escrita e a leitura são também formas de viajar”

P-O que representa, no contexto da sua obra, o livro Palavras Nómadas?
R-O livro Palavras Nómadas corresponde a um passo importante no contexto da minha obra. É o 12º livro, assinala também a um certo fecho de ciclo. De certo modo, Palavras Nómadas dialoga com o livro de contos Floriram por engano as rosas bravas, publicado no ano passado. Em ambos as aprendizagens e as experiências vividas na Ásia, nomeadamente em Macau, são um pilar importante. Neste caso, tal como o título indica, trata-se de crónicas em torno de nomadismos, itinerâncias, viagens, travessias por outros países e continentes, feitas entre 2001 (ano em que fui lecionar para a Universidade da República Oriental do Uruguai, em Montevideu, como leitora do Instituto Camões) e 2022, contemplando o regresso de Macau, também a viagem a Nova Deli e Varanasi como convidada do Festival Literário  “Longa Noite das Literaturas Europeias”. Paralelamente às viagens físicas e geográficas há sempre a presença da literatura, dos escritores, das obras lidas que foram marcando a minha vida.

P-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Como é referida na última crónica foi sobretudo encontrar um sentido, um fio condutor para todo este percurso.

P-As crónicas aqui reunidas falam de lugares distantes (Pequim, Macau, Londres ou Nova Deli): as crónicas e a escrita vão sempre na sua mala de viagem?
R-Sim, acabam por ir. A escrita e a leitura são também formas de viajar, de conhecer e apreender o mundo. Elas permitem-nos aprimorar as lentes com as quais vemos o mundo que nos rodeia. Normalmente, viajo sempre com livros e o kindle (que é uma invenção extraordinária para quem lê em viagem) e também com um caderno para tomar algumas notas.

P-Como viajante pelo mundo, sente que estas crónicas mostram o olhar de uma portuguesa?
R-Sinceramente, não sei. O nosso olhar é configurado pela bagagem cultural, mental  que transportamos connosco. Como  investigadora de Literatura Comparada, centrada na Imagologia, estudei as imagens do estrangeiro em obras de autores como Miguel Torga, Vitorino Nemésio e outros. Nestes dois casos, por exemplo,  há muito a preocupação de se encontrar no estrangeiro, marcas de Portugal. Eu nunca tive essa preocupação, tento sobretudo ir aberta à compreensão das diferenças, procurar o que nos irmana com os outros, no seio dessas diferenças…

P-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Neste momento estou a escrever um romance e vou reunindo também algumas novas crónicas, para além de um livro de poemas escritos em Macau que aguarda uma oportunidade.
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Dora Gago
Palavras Nómadas
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Dora Gago na “Novos Livros” | Entrevistas

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