Diogo Freitas: “A IA apresenta-se para mim como um paradoxo”

Diogo Freitas envolveu-se com o tema da Inteligência Artificial numas férias. O seu interesse começou por ter uma perspectiva mais económica mas depressa se alargou e decidiu escrever um livro em que pudesse levar  este assunto muito complexo de forma simples. O resultado é uma obra que permite uma visão simples mas não simplista sobre uma realidade que está a influenciar (e muito) as nossas vidas.
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P-Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro «Inteligência Artificial: Bênção ou Maldição»?
R-Durante as minhas férias de verão do ano passado, junto da família, envolvido em leituras variadas, nomeadamente o livro “A próxima vaga” de Mustafa Suleyman e também o jornal Financial Times e a revista The Economist, comecei a interessar-me mais acerca da inteligência artificial. Inicialmente apenas numa análise do fenómeno económico que se passava nos EUA, com a subida vertiginosa de empresas ligadas à tecnologia. Embrenhei-me cada vez mais no assunto e percebi que a maioria das pessoas não sabia exatamente o que era a IA e que impactos tem na nossa vida. Percebi também que a literatura que havia, e há, acerca do assunto é essencialmente estrangeira, demasiado densa e técnica. Foi nesse momento que decidi que tinha o dever de escrever um livro de interpretação simples por qualquer pessoa, sem tecnicismos, mas sem falta de rigor. Portanto, decidi escrever este livro com o objectivo de levar temas complexos de forma simples junto dos leitores.

P-Estuda o fenómeno da Inteligência Artificial há vários anos. Como responde à pergunta que coloca: bênção ou maldição?
R-Considero-me um optimista. Porém, não sou um optimista que ignora o mundo ao seu redor. Nesse sentido, diria que sou uma pessoa consciente das valências humanas, que muito valorizo e nas quais acredito, mas também na estupidez humana. A IA apresenta-se para mim como um paradoxo. Por um lado traz consigo vantagens incríveis que vão desde o simples apoio na escrita de um texto até coisas mais complexas como a análise de uma TAC. Por outro, traz consigo problemas graves dos quais destaco dois, em especial: a tendência a tornar-nos menos inteligentes e a singularidade. Respondendo de forma objectiva à sua questão diria que a IA é uma bênção, se bem utilizada e apenas até um determinado ponto; ultrapassado esse ponto, da singularidade, será uma maldição tremenda.

P-Um tópico inovador que o seu livro aborda mas não é muito comum quando pensamos em Inteligência Artificial: a espiritualidade. Onde e como a espiritualidade pode ser importante?
R-A espiritualidade é muito importante para mim. Sou cristão e tenho fé em Deus criador: analiso o mundo através de um horizonte ex nihilo. Estou convencido que a parte espiritual de cada um de nós é de extrema importância, mas que, ao longo do tempo, e também fruto da constante inovação tecnológica, se tem perdido, algures, numa gaveta que raramente se abre. Mas nem todos estão preparados para viver a sua espiritualidade: é necessário gostar de si, conhecer-se e ser capaz de estar consigo próprio. O que vemos, cada vez mais, é uma necessidade de conexão virtual que não impede a solidão. E nesse momento, em que não estamos conectados, temos dificuldade em aturar-nos. A IA tem tendência para piorar a realidade que já vivemos: mais conexão virtual conjugada com solidão social e o medo de estarmos sós. Deixo-o com uma pergunta que, de algum modo, responde à sua questão. Como é que será um ser humano que viva confortavelmente sentado numa poltrona, com a cabeça num capacete que o leva para um mundo virtual altamente atrativo e viciante?

P-Consegue identificar os três maiores perigos e os três maiores desafios que a Inteligência Artificial poderá trazer para a vida do cidadão comum?
R-A minha especialidade não é a astrologia, mas tentarei responder-lhe da melhor forma. Indicarei os dois perigos que mais me assustam: a singularidade e a estupidificação do ser humano – no sentido em que com a IA cada vez mais evoluída o incentivo para estudar, refletir e aprender será cada vez menor. Em relação aos desafios indico-lhe três que me parecem ser os mais importantes: a necessidade de adaptação à inevitável evolução da tecnologia, a necessidade de compreendermos o que nos espera e a necessidade de tomarmos partido pelo mundo que queremos deixar à próxima geração. Seja como for, estes desafios só fazem sentido antes da IA atingir a singularidade, depois disso são um tanto ou quanto inúteis.

P-Pensando no futuro: e nós, portugueses, que papel poderemos ter neste admirável mundo novo?
R-Abordo esse tema no livro de modo bastante pragmático. Portugal, e a UE no geral, não têm possibilidade de liderar esta onda evolutiva: seremos agentes passivos do que os EUA e a China desenvolverem. Simplesmente não é possível; já não vamos a tempo. Na verdade não considero que isso seja um problema em si desde que aproveitemos as nossas mais-valias. Como? Investindo fortemente na agricultura, na indústria alimentar, na produção de energia verde e, quem sabe, tornando-nos num “paraíso” tech free para descanso da mente dos milhões de pessoas cansadas que aparecerão com o desenvolvimento frenético da IA.
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Diogo Freitas
Inteligência Artificial: Bênção ou Maldição
Guerra e Paz  16€

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