Deana Barroqueiro: “Resgatar do esquecimento certas personagens”

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «O Navegador da Passagem»?
R- «O Navegador da Passagem» é o primeiro livro da minha trilogia dos Descobrimentos, uma temática que, após o 25 de Abril de 74, e durante muito tempo, sofreu com o estigma do Estado Novo – pela valorização exagerada de um Império Ultramarino e dos heróis-guerreiros que ajudaram a criá-lo, um conceito em que eu não me revejo. No entanto, este foi um dos períodos mais extraordinários da nossa História, em que  Portugal esteva à frente de todas as nações europeias, em inúmeros aspectos, sobretudo culturais, científicos e civilizacionais, fazendo a primeira globalização da Idade Moderna e levando o conhecimento do Ocidente para o Oriente e vice-versa, o que provocou uma espantosa revolução, progresso e transformação no Mundo de então, que já não voltou a ser o mesmo. A Europa não conhecia verdadeiramente a Terra antes dos Descobrimentos Portugueses. Só por ignorância, tolice ou má-fé, alguém pode reduzir o papel da expansão marítima portuguesa ao mero tráfico de escravos, um comércio que era, há séculos, praticado por todas as nações do globo, como algo economicamente imprescindível e inevitável. E foi por isso que eu embarquei na aventura dos Descobrimentos, para, com os meus romances, dar a conhecer aos meus leitores este período, de forma bem contextualizada e com honestidade (fruto de muitos anos de investigação), mostrando, para além da ficção e da trama, o que nele houve de bom e de mau, apresentando os factos sem juízos morais, próprios do século XXI, que não são, de modo algum, os mesmos de há 500 anos.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Além de querer dar a conhecer os Descobrimentos, de uma forma realista e bem fundamentada, quis resgatar do esquecimento certas personagens, que prestaram serviços extraordinários ao país e à humanidade, através das suas viagens e descobertas, e foram tremendamente injustiçadas e esquecidas pelos portugueses e os seus governantes,  quer no seu tempo, quer em épocas posteriores, como Bartolomeu Dias, o protagonista de «O Navegador da Passagem», Pêro da Covilhã, de «O Espião de D. João II», ou Fernão Mendes Pinto, de «O Corsário dos Sete Mares», que nunca receberam o merecido reconhecimento ou prémio pelo seu valor e grandes obras. Tal como ainda acontece nos nossos dias, em que os medíocres são valorizados e os melhores de nós desprezados ou ignorados, se não tiverem bons padrinhos nos sítios certos. Pretendi também mostrar que o verdadeiro herói dos Descobrimentos é um herói colectivo, gente anónima (muito semelhante aos nossos emigrantes dos inícios do século XX) que, em condições terríveis e à custa de muito sacrifício, trabalho, suor, lágrimas e até da própria vida, procuravam um meio para sair da pobreza e ter um futuro melhor, dando o salto para uma aventura nos mares desconhecidos, vencendo a sua pequenez e atingindo uma dimensão verdadeiramente heróica, nas prisões do mar que eram as caravelas e cuja vida a bordo eu descrevo em pormenor. Assim como retratar a condição da mulher, na ausência de direitos que a protegessem, pior ainda, se fossem escravas, como as quatro negras cristãs que vão na caravela de Bartolomeu Dias para serem lançadas nos lugares descobertos pela costa de África e são talvez as pioneiras nos Descobrimentos.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Tenho sempre duas obras, para não ficar bloqueada. Estou na fase final do meu último romance sobre os Descobrimentos, que é, de certo modo, um prolongamento de «O Navegador da Passagem» e me permitiu completar a odisseia ou saga marítima dos portugueses. Assim, quem ler as minhas quatro obras (é já uma tetralogia) ficará com um conhecimento bastante abrangente deste período, embora sejam obras de ficção.  Quanto ao segundo livro, vem na sequência do meu «1640», sobre a Restauração, para eu completar também o meu fresco do século XVII, embora a vida na corte seiscentista seja vista através do olhar do cozinheiro dos reis, e não por poetas, com no anterior.
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Deana Barroqueiro
O Navegador da Passagem
Manuscrito  19,90€

Deana Barroqueiro na “Novos Livros” | Entrevistas

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