David Martelo: no 25 de Abril sem saber que estava a desencadear uma revolução

1 – Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «25 de Abril. Do Golpe Militar à Revolução na Forma Tentada»?

R- Conforme refiro na Introdução do livro, passados mais de quarenta e seis anos do dia libertador, estão já publicadas diversas obras sobre este tema, abrangendo estudos académicos, memórias, entrevistas e biografias. Não abundam, porém, obras que cubram o período que vai do início da conspiração até ao 25 de Novembro, sem estarem referidas, directa ou indirectamente, a uma determinada figura da Revolução – Presidente da República, 1.º Ministro, Conselheiro da Revolução, líder partidário, membros dos governos provisórios, deputados, etc. Entendi, por isso, que, tendo sido contemporâneo e participante activo no Movimento dos Capitães, dispunha de conhecimentos e vivências que seriam muito úteis na elaboração deste texto. No entanto, essa ‘memória’ foi largamente completada por um intenso trabalho de investigação, pelo que seria errado dar-lhe a forma de “Memórias”.

2 – Com a sua pesquisa, que factos novos ou conclusões inovadoras podemos conhecer sobre este período tão rico da história contemporânea de Portugal?

R – Não dispondo de uma quantidade de ‘segredos’ comparável aos já expressos pelas principais figuras da revolução, procurei apoiar-me nos jornais da época, emprestando ao texto uma característica inovadora – a recordação da revolução numa perspectiva muito próxima daquela que poderia ser a do cidadão comum contemporâneo dos acontecimentos. Deste modo, esta obra privilegia a memória do que foi público e segue uma linha que o autor pretendeu ser de fácil compreensão, pelo que resumiu ou se absteve totalmente de se espraiar pelos processos de descolonização, pelos meandros culturais daquela época e por outras questões de indiscutível importância, mas cuja inclusão não só a tornariam desnecessariamente longa como também poderiam distrair o leitor da orientação escolhida. Esta obra é, também, um texto de História Militar. De facto, as Forças Armadas, apesar de imensas dificuldades e de múltiplos desvios, mantiveram sempre o nível suficiente de “Instituição” e a elas se devem todas as inflexões significativas ocorridas durante o período de transição, incluindo a determinação de cumprir a promessa de eleições livres.

3 – Do seu ponto de vista, o 25 de Abril foi um golpe de Estado ou uma revolução?

R – Numa resposta curta a esta pergunta, poderei citar o que, a este propósito, afirmou o Conselheiro da Revolução Ernesto Melo Antunes: “A maioria dos oficiais participou num golpe militar, num pronunciamento militar, sem saber que estava a desencadear uma revolução”. Esta frase traduz, com bastante rigor histórico, o sentimento que, na época, dominava o espírito dos oficiais revoltosos. O ‘25 de Abril dos capitães’ foi uma revolta militar libertadora, seguida de uma intensa adesão dos portugueses, da qual resultou o início de uma revolução já não exclusivamente militar, mas sim com uma significativa participação popular.
__________
David Martelo
25 de Abril: Do Golpe Militar à Revolução na Forma Tentada
Edições Sílabo  25,50€

COMPRAR O LIVRO