David Machado | Histórias Possíveis
R- Ainda estava a trabalhar no romance O Fabuloso Teatro do Gigante quando escrevi os primeiros contos das Histórias Possíveis. Escrevia um por mês, sobretudo por que isso me dava imenso prazer. No romance tinha explorado de forma muito consciente a narrativa fantástica, ou o realismo mágico, como se quiser chamar. Com estes contos não queria que o sobrenatural ou a magia entrasse neles. São histórias estranhas, sim, mas possíveis na nossa realidade.A verdade é que, enquanto os escrevia não pensava publicá-los em forma de livro. Essa possibilidade só veio depois. Eu gosto de contos. Gosto de ler contos e gosto de escrever contos. Gosto muito da ideia de uma história concisa, sem espaço para divagações, na qual tudo o que é importante está dito e tudo o que não é importante ficou de fora: é quase uma fórmula matemática. Quero muito publicar outros livros de contos.
2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- As ideias para estes contos estavam num caderno onde eu tomo nota de factos, diálogos, imagens, frases “graffitadas” nas paredes, pensamentos, etc. E ás vezes ideias para histórias. Neste caso, eram situações, acontecimentos, relatos, de certa forma estranhos, que me contaram ou que eu testemunhei e sobre os quais trabalhei. O importante aqui é a palavra «estranho». Ou seja, tudo o que foge à nossa normalidade. Isso interessa-me, porque quer dizer que o cérebro humano não está tão preso a convenções e regras sociais como muitas vezes se presume.Por outro lado, eu no início pensei propôr a publicação periódica destes contos a um jornal ou a uma revista. De modo que tentei escrevê-los em torno de algumas regras e de um conceito, para que não parecesse uma simples reunião de contos avulsos. Por isso têm todos o mesmo exacto tamanho. Por isso há em todos um narrador/testemunha. Por isso todas as personagens parecem fazer parte do mesmo universo (literário, pelo menos).
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou a trabalhar em dois livros distintos. Um é um novo romance, que está já meio escrito. É uma história sobre o processo de passagem da memória entre gerações, sobre a forma como a mentira e a verdade, a certa altura desse processo, se misturam sem que seja possível distingui-las. O passado existe, mas apenas como o contamos.O outro livro é mais um conto infantil para juntar aos três que já estão publicados e àquele que será publicado em Outubro (O Tubarão na Banheira). Ainda não comecei a escrevê-lo, estou em fase de reunir ideias. Uma coisa é certa: vai ser uma história de fantasmas.
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David Machado
Histórias Possíveis