Comecei por não gostar e andei assim por muitas páginas

CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha

Comecei por não gostar e andei assim por muitas páginas. Depois gostei um pouco e comecei a apontar, mas também senti alguma agonia, algum desprezo, elevei a sobrancelha para partes do texto, elevei ambas muitas vezes. Muitos olhos negros num livro sobre a brancura, um cão que não ladra.
A mensagem, se é que a captei, é uma espécie de lamento pela irmã mais velha que morreu logo a seguir ao nascimento. Se ela tivesse vivido, Han não andaria por cá.
É um livro que recorre a recordações existentes e não existentes, servindo estas, quase inexplicavelmente, para fugir à memória.
Muita dor física, muito queixume, muita dor moral também “Há momentos em que o passar do tempo é de uma nitidez intensa. A dor física aguça sempre a percepção”.
Todo o branco tem um pouco de escuro, de sujidade que o confirma e desafia e desmonta. É um branco de uma tristeza profunda até aos ossos, mas também alardeada para que todos o saibam.
Por vezes faz lembrar Paulo Coelho.
É um livro de uma pessoa solitária , de uma pessoa que se isola sem casulo ou abrigo, isola-se para fugir? Para chegar? Não sei, cada vez sei menos sobre mais coisas. É um livro de abandono, perturbador mas longe de uma obra-prima.
Há uma tentativa subtil de tocar o íntimo
Talvez resulte, não no meu caso. E esta frase poderia bem ser um resumo:
“Depois de a neve se ter espalhado silenciosamente pelo chão, com uma ausência de alegria ou tristeza em igual medida.”
Não me tocou. Falta algo e não sei dizer o quê.
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Han Kang
O Livro Branco
D. Quixote

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